

Opinião
Milagres diferentes
As classes C, D e E gastam cada vez mais com bets. As classes A e B, com canetas emagrecedoras



Se alguém perguntar o cardápio matinal dos brasileiros ou do almoço mais tradicional do País, certamente terá respostas muito similares. Agora, além do feijão com arroz do dia a dia, dois novos ingredientes foram adicionados: as apostas online e as canetas emagrecedoras. A conclusão é do estudo Worldpanel by Numerator da Kantar, empresa global de pesquisas e insights de mercado.
No segundo trimestre deste ano, 13% dos valores antes destinados a alimentos foram gastos com as apostas, principalmente nas classes C, D e E. Quando se fala nas classes A e B, as canetas emagrecedoras aparecem como impulsionadoras da queda de consumo nesse segmento, impactando especialmente chocolates e a linha da chamada mercearia doce, que inclui sobremesas, balas, confeitos, biscoitos e uma infinidade de produtos açucarados.
O estudo aponta ainda um aumento de 10% no volume de marcas consumidas, sinal de diversificação. Variar o consumo, nesse caso, significa buscar marcas com menor preço. Houve ainda um aumento de 13% na quantidade de canais visitados e 8% na frequência de compra. O aumento das visitas e da frequência de compra indica uma preocupação com valores de desembolso altos e uma tendência em não estocar alimentos. Uma explicação para esse resultado seria o aumento de profissionais de aplicativos, que não têm dia fixo de recebimento mensal. O dinheiro entra no dia a dia ou semanalmente. As compras seguem a mesma dinâmica.
Modernização
A Multi, antiga Multilaser, vai encerrar 2025 com um investimento na modernização de unidades operacionais e na transição para indústria 4.0. O valor total é de 294,1 milhões de reais, financiado pelo BNDES, e será aplicado em duas unidades em Manaus e Extrema, no Amazonas e Sul de Minas Gerais, respectivamente. O investimento vai para a digitalização das linhas de produção, automação e integração de sistemas de controle. O objetivo é melhorar a competitividade.
Fundada em 1987, a Multi vem se consolidando como um dos maiores conglomerados brasileiros de bens de consumo e eletrônicos. A empresa abriu capital em 2021. A receita líquida no ano passado foi de 3,4 bilhões de reais, com um portfólio de mais de 7 mil itens. A Multi administra 24 marcas parceiras, além de outras 20 próprias, muitas desenvolvidas em um centro de engenharia instalado em Shenzhen, na China.
Duas rodas
A Shineray, fabricante chinesa de motocicletas, motonetas, quadriciclos e veículos utilitários, decidiu acelerar no mercado brasileiro. A empresa acaba de lançar a linha SBM (Shineray Brasil Motors), focada em motos de média e alta cilindrada. Assim, a marca passa a atuar com veículos de preços médios mais elevados e mais potentes. São seis: SBM 250R, SBM 400, SBM 600C1, SBM 600S, SBM 600V e SBM 600R. Os preços variam de 22,5 mil a 55,9 mil reais. A linha tem design esportivo e promete o que os carros chineses já garantiram, muita tecnologia com preços competitivos.
A Shineray foi fundada em 1997, na China, e tornou-se uma das maiores fabricantes de motocicletas do país. No Brasil, iniciou operações em 2015, com fábrica no Complexo Industrial de Suape, em Pernambuco, onde produz e monta ciclomotores e motocicletas de baixa e média cilindrada com peças importadas e componentes nacionais.
Concreto
O setor de cimento apresentou, em setembro, um crescimento de 4,6% comparado com o mesmo período de 2024. Foram comercializadas 6,1 milhões de toneladas. Embora seja uma expansão relevante, o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) revisou para baixo a previsão de crescimento para o ano, de 2,8% para 2%. Os impactos econômicos que estão forçando essa inflexão são os juros elevados, a desaceleração de lançamentos imobiliários e a retração das grandes obras públicas.
O setor deve, porém, sentir um impacto positivo no curto prazo com o novo programa federal de crédito para pequenas reformas. O programa libera empréstimos de até 30 mil reais para famílias com renda mensal de até 9,6 mil reais. O valor pode ser destinado a custear materiais de construção, mão de obra, projetos e orientação técnica. Outro fator positivo é a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais. Serão cerca de 30 bilhões de reais no consumo de serviços e produtos, parte deles, certamente, destinada a pequenas reformas. •
Publicado na edição n° 1384 de CartaCapital, em 22 de outubro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Milagres diferentes’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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