Alberto Villas

[email protected]

Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Meu sobrinho atropelou uma vaca

As câmaras instaladas na avenida registraram, é claro. E eu, a 500 quilômetros de distância, já tinha visto a cena, minutos depois

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Apoie Siga-nos no

A notícia chegou em segundos, logo cedo: um cara atropelou uma vaca na Avenida Nossa Senhora do Carmo, em Belo Horizonte. A avenida que ainda chamo até hoje de BR-3, porque, seguindo ela toda vida – como dizem os mineiros – vai dar no Rio de Janeiro.

Quis logo saber a história, quando fiquei sabendo que o cara que estava na moto e que bateu na vaca era meu sobrinho, o Vinicius.

Poucos minutos depois já estava sabendo que ele estava bem, a vaca também.

A história é boa: ele vinha tranquilo na sua moto pela Avenida Nossa Senhora do Carmo, uma das mais movimentadas da capital mineira, quando avistou duas vacas enormes no meio do caminho. Freou e acabou dando uma encostadinha numa terceira vaca, atrasada, que vinha atrás.

As câmaras instaladas na avenida registraram, é claro. E eu, a 500 quilômetros de distância, já tinha visto a cena, minutos depois.

Não passou meia hora, a loucura começou. Vinicius resolveu postar o vídeo pra acalmar os amigos, os parentes, os vizinhos e, principalmente, a mãe, que estava passeando numa boa na 5ª Avenida, bem longe de qualquer espécie de bovino.

Pra quê?

O telefone começou a tocar sem parar, o celular dele chegou a ficar quente. Emissoras de televisão, de rádio, gente que faz podcast, blogs, sites de notícias, todo mundo queria saber da história, queria imagens, entrevista e tudo mais.

Vinicius, um talentoso tatuador, nem conseguiu tatuar nada naquela quarta-feira. Passou o dia curtindo os seus quinze minutos de fama, respondendo mensagens, atendendo celular, nem almoçou.

Já imaginou o que é receber quinhentas mil mensagens enquanto a Branca, na cozinha, refogava o arroz?

De repente, lá em Nova York, a Vera virou a mãe do Vinicius, o Toninho virou o pai do Vinicius e se eu não ficasse quietinho aqui no meu canto, viraria o famoso tio do Vinicius.

Em vinte e quatro horas, ele sentiu o gostinho da loucura que é o mundo hoje, com suas redes sociais.

Alguém lembrou no grupo da família que, em 1970, o meu irmão, hoje tio do Vinicius, atropelou um cavalo na mesma avenida, dando perda total ao fusquinha branco que ele tinha acabado de comprar.

Mas esta é outra história, porque naquele 1970 Belo Horizonte era ainda mesmo uma roça, onde cavalos e vacas pastavam na BR3, aliás, na Avenida Nossa Senhora do Carmo.

Ah, ia me esquecendo. Sobrinho e vaca passam bem.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo