Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Meu canudo de papel, parte 2

Hoje, o meu diploma francês repousa dentro de uma pasta transparente de plástico. Não está dependurado na parede porque nunca o emoldurei

Foto: Agência Brasil
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Antes mesmo de aceitar o convite da TV Globo para ser editor-chefe do Jornal da Globo, na companhia de Sandra Annenberg, fui logo avisando:

O meu diploma é francês!

O diretor de Jornalismo não se assustou, pelo contrário, me acalmou, dizendo que a Globo ia resolver isso para mim, para que ele fosse revalidado.

Respirei aliviado.

Assim que terminou o primeiro Jornal da Globo, no início de uma madrugada de abril de 1997, lá estava o meu nome nos créditos:

Direção: Alberto Villas

Era o único jornal da emissora que não tinha um editor-chefe assumido, virei diretor.

No dia seguinte, pedi a revalidação do diploma francês na Delegacia Regional do Trabalho, a pedido da Globo. Voltei para casa com um papelzinho de cartolina grosso, com os dizeres:

Movimento do Processo

Processo 20AGO24440-031704/97

Setor de Comunicação

Escrito à mão, estava escrito no verso do papelzinho: Procurar Maria Eunice no telefone 256-2011 Ramal 275.

E o tempo começou a correr. Foram quase duas décadas de vênus platinada. Do Jornal da Globo, pulei para o Jornal Hoje, passei uma temporada substituindo o editor-chefe do Jornal Nacional e acabei no Fantástico.

Confesso que deixei o tempo me levar, sem sequer ligar para a Maria Eunice, no DRT. Os vários crachás que tive na Globo, todos eles eram de diretor de programas.

Eu sempre jurei ser Jornalista, desde pequenininho, desde aquele abril de 1966 quando comprei o primeiro número da revista Realidade com o Pelé na capa. Foi ali que virei jornalista.

Depois de mais de quatro décadas de trabalho em jornais, revistas, televisão e rádio, guardo um baú de matérias publicadas na imprensa, que vão da Veja à revista da Drogasil. Com mais e 40 anos de trabalhos prestados, o frio na barriga voltou. Foi quando entrei com os papéis no INSS para me aposentar.

E se me pedirem o diploma de jornalista, pensei com os meus botões costurados com pessimismo.

Que nada! A aposentadoria saiu em uma semana e eles nem tocaram em diploma. Foi quando, só de birra, fiz um currículo quilométrico e enviei diretamente ao Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, perguntando se poderia ter um diploma de Jornalista. Nunca recebi resposta.

Hoje, o meu diploma francês repousa dentro de uma pasta transparente de plástico, cheia de documentos. Não está dependurado na parede porque nunca o emoldurei.

Mas como dói.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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