Opinião

Mesmo com crescimento da produção de alimentos no Brasil, há gente comendo lixo

Fato é que se você pesquisar encontrará cerca de 80 produtos brasileiros para comer ou se movimentar.

(Foto: iStock)
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“Pragas e calamidades podem vir a comprometer a produção agrícola brasileira nos próximos anos. Muitas já acontecem, são conhecidas, umas combatidas, outras não. Por certo, anos seguintes, novas ainda virão”.

Assim comecei a coluna publicada neste site em setembro de 2016, cinco anos atrás, pois. O Brasil estava prestes a começar a plantar a “safra de verão”, em que é mais significativa a produção de grãos, soja a principal, agregada a duas safras de milho, três de feijão, algodão, amendoim (2), arroz, gergelim, girassol, mamona, sorgo. Também previa as culturas de inverno (aveia, canola, cevada, trigo, triticale).

São as lavouras ditas temporárias (plantios em ciclos anuais). Na safra 2020/2021, é previsto tirarmos 290 milhões de toneladas desses alimentos em 72 milhões de hectares de terra. Sendo raso como um soldado negacionista são quatro mil quilos de alimentos por 10 mil metros quadrados, o suficiente para o 0,1% da pirâmide de renda jogar golfe ou, plácido, ler o livro do justiceiro Sérgio Moro.

O Brasil também é forte produtor de lavouras perenes, aquelas plantadas desde o início do século XX por pioneiros lavradores e cujos descendentes, por anos, nem mesmo chegariam a saber no que daria. Mesmo cuidando ou não, perenizando, ou transferindo-as para resilientes caboclos, caipiras, campesinos, sertanejos, sulinos, tabaréus da labuta vocacionada, como os classificou o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997).

Entre as lavouras perenes, o café foi por muito tempo a estrela principal, embora sua característica de bienalidade, ano sim ano não, a colocasse como coadjuvante. Nunca, porém, deixava de ganhar um Oscar. Assim foi a última colheita, 47 milhões de sacas beneficiadas de 60 kg, uma redução de 25% sobre a anterior (recorde). No campeonato mundial de produção e exportação, entre os países participantes, nunca deixou de ser o “Galo Mineiro”.

Os citros, in natura, ou commodity quando virada em suco, tem papel fundamental, assim como outras frutas, boa parte produzida nas beiras do “Velho Chico”.

Grandona, não esqueci não, a cana-de-açúcar começou lá no Nordeste e, como muitos brasileiros desassistidos, desceu para o Sudeste à procura de quem a tratasse melhor e lhe desse relevância maior. Tiro a casca e a chupo docemente ou a moo e, selvagem, sorvo seus líquidos femininos. Tenho-as à fartura quando cruzo as estradas paulistas.

Sabem o que é ATR? Não? Açúcar Total Recuperável, ou seja, o máximo de doçura que você retira de uma noite de amor a cana (peguei intimidade), que também pode ser feita combustível (etanol).

Antes do Regente Insano Primeiro (Messias), era menos custosa e poderia prolongar seus dias de ação prolífera.

O Brasil produzirá 80 milhões de toneladas de ATR na próxima safra. Caiu 17% sobre a anterior. Fatores climáticos.

Fato é que se você pesquisar encontrará cerca de 80 produtos brasileiros para comer ou se movimentar. Mas não estranhe ao encontrar-se, presencial ou virtual, com muitos brasileiros remexendo o lixo para comer.

Sim, as pragas e calamidades mencionadas no primeiro parágrafo existiram entre as safras 2016/7 e 2020/21. Nem por isso, nossa produção deixou de crescer cerca de 35%.

Para uma população que, no período, cresceu cerca de 3%, extrema pobreza, falta de recursos governamentais, inflação de alimentos, gente comendo lixo, esta, uma verdadeira epidemia política.

Se não mudar de ideia, volto ao assunto.

Inté!

Nota: por motivos de saúde, estive afastado da coluna em CartaCapital nos últimos seis meses. Tô remediado.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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