Medo e violência

Indivíduos amedrontados, seja por uma ameaça real ou devido a uma fantasia, tendem a se defender, por vezes, de forma violenta. Eis a raiz do bolsonarismo

Bolsonaro disse recentemente que "Verdade Sufocada", de Ustra, é seu livro de cabeceira

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A primeira conexão entre as palavras que intitulam esta coluna parece óbvia: sim, a violência gera medo. Se o Brasil da era Bolsonaro se tornou mais violento, atendendo às obsessões do ex-chefe da nação, é evidente que muitos brasileiros tenham se tornado mais medrosos. Mas a recíproca também é verdadeira: indivíduos amedrontados, seja por uma ameaça real ou devido a uma fantasia, tendem a se defender, por vezes, de forma violenta.

O paradoxo gerado durante os quatro anos da gestão bolsonarista é que uma porcentagem razoável de brasileiros que se tornaram mais violentos não tinha, provavelmente, razões concretas para sentir-se ameaçada. A julgar pelos noticiários, não foram os miseráveis e os famintos os grandes protagonistas do aumento da violência: foram os ricos e integrantes da classe média, insuflados pela paixão do ex-presidente pelas armas de fogo – vide o gesto infantil de imitar um revólver com os dedos polegar e indicador.

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2 comentários

CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 5 de janeiro de 2024 17h26
A ferida só vai cicatrizar se for devidamente supurada. Enquanto se colocarem panos quentes, ela só piorará…
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 7 de janeiro de 2024 23h43
Aqueles que esquecem o seu passado estão condenados a repeti-lo, disse-o o filósofo espanhol George Santayana. Enquanto não houver uma conscientização de toda a sociedade brasileira, inclusive dos mais reacionários, não passaremos a limpo o nosso ignominioso passado histórico. A ditadura militar foi uma das responsáveis, senão a única, por levar-nos ao atraso. João Goulart foi deposto por querer fazer reformas necessárias e urgentes e o grande capital e cinismo de políticos , empresários, além da grande mídia, fizeram vista grossa aos crimes praticados na ditadura é que despolitiza e imbeciliza parte desse povo. A ex presidente Dilma Rousseff foi uma mulher de coragem por criar a Comissão Nacional da Verdade e por isso pagou um preço muito caro com a sua deposição pelo Congresso Nacional. Muitos desses congressistas deveriam agradece-la por instaurar tal comissão, mas preferiram se calar e até puni-la. Hoje vivemos ainda o fantasma do bolsonarismo, da ignorância e despolitização. Muitos ainda acreditam que os governos sociais democratas de Dilma Rousseff e de Lula são comunistas. Dizem abertamente e maliciosamente e através da manipulação de maus políticos e até da mídia, ainda, que o governo vai aprovar o aborto ou tomar suas casas e implantar o socialismo no país. Como se a questão da descriminalização do aborto não fosse um problema de saúde pública, a reforma agrária e urbana não fossem questões salutares e urgentes e que o nosso país está sob a égide do sistema capitalista respeitando a propriedade privada e o livre mercado. Mas a partir do momento em que o governo pensa nos mais pobres, tenta ajudar a quem precisa e diminuir a desigualdade social que é o grande responsável pelo atraso do país, essas pessoas se revoltam e se insurgem contra aqueles que praticam as políticas públicas. Precisamos urgente de educação e consciência, não somente para as crianças e jovens, mas para muitos adultos e idosos que não sabem discernir o bem do mal, o certo do errado, não sabem pensar dialeticamente que a questão social está umbilicalmente vinculada com a questão econômica, que o país precisa urgentemente se reindustrializar para gerar mais empregos, que precisa se investir em educação pública de boa qualidade para que o país seja competitivo lá fora. Enquanto isso o Brasil, por causa desses energúmenos, fica patinando da 10ª economia tentando chegar a ser uma 9ª ou 8ª sendo que se não tivéssemos tanta energia gasta com tal baixo nível cognitivo, poderíamos estar entre os países do primeiro mundo tendo em vista todas as nossas potencialidades. Contudo, muitos desses cidadãos preferem apostar que a violência do Estado é o melhor remédio para se combater a violência que esse próprio Estado criou. Na cabeça dessas pessoas vivemos em outra realidade, num mundo paralelo e no total delírio.

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

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