A guerra continua e o preço da paz vai ficando cada vez mais alto. O espetáculo de destruição e de violência parece ter enevoado cada vez mais a regra básica de discriminação, que impõe a distinção entre civis e combatentes. A ambição do direito internacional de impor regras mesmo durante o conflito armado, a que se convencionou chamar de jus in bello, aparece-nos agora como utópico, se não ilusório. Regresso a Clausewitz: “a guerra é um ato de violência sem limites”, durante o qual é preciso evitar o perigo dos “erros devidos à bondade humana”. A guerra da Ucrânia parece cada vez mais uma guerra do século XIX. A prazo, não nos podemos esquecer de somar o direito internacional às vítimas desta guerra.
A paz será sofrida. A paz é sempre um compromisso e ele será mais difícil de se negociar com mais destruição, mais crueldade e mais violência. Como fazer a paz em cima de tantos mortos? Quem se atreverá? Se a guerra é o inferno, a paz negociada com concessões mútuas parece ser uma traição aos que deram a vida pelos seus países. E, no entanto, uma certeza temos: nem o inimigo deixará de existir nem a vontade de combater se desvanecerá tão depressa. Este é o rasto da guerra e nunca houve outro: ressentimento, ódio e desejo de vingança que durará por gerações. Nada de bom na frente oriental.
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