É licença poética chamar de empresário ou investidor Otávio Fakhoury, um dos financiadores das milícias bolsonaristas investigados pelo Supremo Tribunal Federal. O termo correto é rentista, essa categoria particularmente próspera no País, de longa vida na história brasileira, desde tempos imemoriais.
Fakhoury, a exemplo de tantos de sua espécie, cospe palavras como capitalismo, meritocracia, competitividade, esforço, empreendedorismo. Mas do que vive? Como acumulou sua fortuna? De origem libanesa, ele administra a FKO, a Epof e a MCO 19, três empresas de participações imobiliárias herdadas do falecido pai. Dito da forma mais simples: vive de aluguéis. E nem se deu ao trabalho de adquiri-los, ganhou de presente. Na escala evolutiva do “livre mercado”, mais protozoária do que esta atividade, só a agiotagem.
A ascensão de Bolsonaro permitiu a Fakhoury um outro tipo de realização pessoal e lhe deu uma causa para ocupar o tempo livre. Ele se tornou um guerreiro cultural, disposto a mudar as mentalidades contra o comunismo, em nome da pátria e de Deus. É do tipo que acredita que nada como uma ditadura para salvar a democracia, estabelecida nas seguintes bases: manda quem pode, obedece quem tem juízo.
O STF investiga, entre outras, se o cobrador de aluguéis, o “Senhor Barriga” do bolsonarismo, alimenta a máquina de difamação que ameaça as instituições brasileiras e sustenta os delírios golpistas dos chamados 300 de Bolsonaro (a alucinação começa por aí. No auge, o grupo, apesar de histriônico, nunca passou de 30 guerreiros).
Convencido de sua missão divina e de sua importância individual, talvez nervoso pelo cerco judicial, Fakhoury veio a público ameaçar um rompimento com Bolsonaro caso Abraham Weintraub seja demitido do Ministério da Educação. A lista de motivos para defender a queda do ministro é infindável e não caberia neste espaço. Contento-me com esta: seria matar dois coelhos com uma só cajadada. O Brasil se veria livre ao mesmo tempo das patetadas do ministro energúmeno e da “militância” do rentista obtuso.
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