

Opinião
Mais forte nas pesquisas, Lula enfrenta o velho truque das pautas-bomba
Desta vez, porém, a direita está mais frágil e os atos convocados contra a PEC da Blindagem são oportunidade


As pesquisas seguem indicando uma recuperação consistente da popularidade do presidente Lula. Na Atlas Intel, divulgada em 17 de setembro, a aprovação subiu para 50,8% e superou pela primeira vez em um ano a desaprovação, hoje em 48,3%. O levantamento mostra também apoio maciço a medidas do governo, como a isenção do Imposto de Renda para salários de até 5 mil reais (69%) e a ampliação do Farmácia Popular (84%).
No dia seguinte, a Quaest reforçou a tendência, agora em cenário eleitoral. Lula ampliou a vantagem sobre os Bolsonaro: venceria o ex-presidente inelegível por 13 pontos (47% a 34%), Michelle por 15 (47% a 32%) e Eduardo por 18 (47% a 29%).
Pesquisas qualitativas apontam a mesma direção. Grupos focais do Observatório Político e Eleitoral (UFRJ/UFRRJ) já identificam reconhecimento de políticas como o Pé-de-Meia, com potencial de impacto semelhante ao Bolsa Família em 2005/2006. Iniciativas recentes, como o Agora Tem Especialistas, começam a ganhar tração. Surge também a percepção de que o Brasil agiu corretamente ao resistir às pressões de Trump e dos Bolsonaro para libertar o ex-presidente e reabilitá-lo em 2026.
Em política, não existe movimento sem cálculo. E a recente ofensiva da direita e da ultradireita no Congresso tem total relação com a melhora na popularidade de Lula e do governo. Diante da perspectiva de mais quatro anos de mando petista, a conta é: arrancar o máximo possível de privilégios e emendas orçamentárias.
Arthur Lira – ainda com controle sobre a base de deputados, apesar de não presidir mais a Casa – Ciro Nogueira e Antônio Rueda lideram essa ofensiva, que remete ao golpe parlamentar contra Dilma e repete a lógica de 2015, quando Eduardo Cunha usou ‘pautas-bomba’ para inviabilizar o governo. Hoje, a estratégia se traduz na PEC da Blindagem e na pressa em aprovar a anistia aos golpistas.
Desta vez, porém, a direita se encontra mais frágil: de um lado, pela recuperação da popularidade de Lula; de outro, pela firme atuação do STF ao punir os ataques do 8 de Janeiro e conter abusos na distribuição de emendas.
A reação popular já mostrou força. A indignação imediata contra a PEC da Blindagem mudou o jogo no Senado: o MDB anunciou posição contrária e parlamentares da própria direita tradicional, como Otto Alencar (PSD-BA), presidente da CCJ, também se afastaram da proposta. O risco, no entanto, é que, sem mobilização constante, o lobby nos bastidores consiga virar votos a favor da PEC.
Por isso, é preciso seguir mobilizando as redes e as ruas. A defesa da democracia deve se expressar tanto na luta contra a PEC da Blindagem e a anistia aos golpistas quanto no apoio a medidas que melhoram a vida do povo — da isenção do IR à taxação dos mais ricos, passando pelo fim da jornada 6×1. Nesse sentido, têm grande importância os atos convocados pela Frente Povo Sem Medo e pela Frente Brasil Popular para o dia 21 de setembro. É no calor da revolta popular que se decide se o país avançará ou seguirá na política de chantagem.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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