Justiça

Luisa Mell e sua perseguição às tradições africanas no Brasil

Uma forma de racismo gourmetizado combinado com mentiras fantasiadas de ativismo compõem o leque de violências dessa comunicadora

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Nesta sexta-feira, 25, a conhecida como ativista pelos direitos dos animais, Luísa Mell, 41, compartilhou em suas redes sociais a foto de uma cachorra sem as patas traseiras e com as orelhas cortadas, relatando, segundo ela, que o animal de estimação havia sido amputado em um ritual religioso.

No facebook, Luísa, apresentadora de programas especializados em cachorros, publicou:

“Não tenho palavras, só choro. Em nome de uma religião, de uma crença, em um ritual, esse filhotinho teve duas patinhas de trás e as orelhas cortadas, lentamente. Conseguimos fazer seu resgate antes de seu “sacrifício final” e ele está conosco agora” (sic).

Na sequência de sua exposição, foram muitos os ataques às religiões afro-brasileiras, Umbanda e Candomblé. Inúmeras pessoas se compadeceram da suposta tortura executada por religiões de origem africana no Brasil e iniciaram-se os discursos de racismo e ódio contra estas culturas.

Entretanto, uma veterinária, Ana Lucia Mendes Coelho, escreveu:

“Ai Luisa Mel… você é cômica e uma sensacionalista de quinta! Tenha respeito. Em primeiro lugar é uma fêmea e estava em tratamento em uma clínica veterinária após ter sido atropelada. Infelizmente teve trombo e perdeu as extremidades. A tutora pobre decidiu pedir ajuda e a funcionária da clínica levou até você. Não foi um resgate seu, foi uma ajuda sua! Por isso, não acreditem em tudo”.

Ao ser perguntada sobre como conseguiu essas informações, Coelho respondeu: “presenciei o atendimento desta cachorrinha na clínica, inclusive esta foto é da clínica! Sou veterinária e fizemos um corpo clínico para este caso”.

No facebook, o Babalorixá da CREIA Oxogiyan Daniel Pereira respondeu:

“Você e seu péssimo hábito de nos atacar gratuitamente. Por que não se desculpa e assume que inventou isso para ganhar likes em cima da opressão que minha religião já sofre? (…)”

Não é novidade para ninguém que a Luísa tem se promovido por meio da prática do racismo religioso. O professor Daniel fala sobre um hábito recorrente de Mell, ou seja, reiteradamente ela tem atacado as tradições negras no Brasil.

Em conversa com Pereira de Oxogiyan, percebe-se o agravamento da perseguição por meio de atitudes como essas e o tamanho da dor provocada pelo racismo religioso de Mell e de seus seguidores.

Daniel pergunta-se: “não seria a hora de pará-la por meio de mecanismos legais? Racismo não é crime?”

Mell fez uma verdadeira campanha contra as tradições de origem africana no Brasil antes, durante e depois do julgamento no STF para a constitucionalidade do abate religioso.

Está posto que um ativismo “gourmetizado” precisa de um inimigo para que se sustente e a supostamente defensora dos animais decidiu perseguir as religiões de matriz africana e fomentar o ódio contra seus praticantes.

Acontece que hoje, para alguns, o modus operandi para a obtenção da fama passa por criminalizar coisas pretas e fomentar o ódio contra uma cultura não eurocêntrica.

Após ser acusada de mentirosa por Luísa Mell, a médica veterinária, Ana Lucia Mendes Coelho alega, por meio de um vídeo no qual expõe seu diploma da Universidade de São Paulo devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina Veterinára, bem como a sua anuidade paga com o CRMV, que teria acompanhado de perto o caso da cachorra de estimação e, por questões éticas, decidiu pronunciar-se na publicação e desmentir a ativista.

Segundo Nadia Ominodô de Ologunede, Iyalorixá da CCRIÁ-LO, não há relação alguma entre os casos relatados por Luísa e a sacralização e abate religioso de animais no Candomblé. Todavia, para a ativista Mell, estes animais socorridos por ela estariam sempre envolvidos em rituais de magia “negra” da Umbanda e do Candomblé.

A Iyalorixá Ominodô reitera: “a sacralização e o abate religioso são partes fundamentais dos rituais nas Comunidades Tradicionais de Terreiro de origem afro-brasileira. Trata-se de cumprir uma prática ancestral de alimentação tradicional e, por meio desses ritos, são realizadas as trocas em todos os sentidos”.

“A alimentação tradicional é feita, em sua maioria, com aves e caprinos que já fazem parte da alimentação cotidiana de cada brasileiro. Um sentido além da alimentação do corpo com proteína animal se estabelece com vistas à busca de saúde, agilidade, resistência, sagacidade, rapidez e longevidade. E não, não sacralizamos animais domésticos. Quem o diz nada sabe sobre quem somos e o que praticamos” – completa Ominodô.

Luísa Mell, mesmo após as confirmações da veterinária Coelho, insiste em manter sua estória. O que não é novidade: afinal, como diria o Ministro da Propaganda nazista, “conte uma mentira mil vezes e ela se tornará verdade”.

É disso que tem vivido a ativista contra as religiões de matriz africana. É disso que se trata um racismo religioso estrutural. Um racismo que se fantasia de uma causa palatável e aceita hegemonicamente para atacar algo que nada tem a ver com a verdadeira proteção dos animais.

Ninguém vai negar que a proteção dos animais é uma causa legítima e necessária, mas, se para isso, você fomenta o ódio contra uma cultura nacional, contra uma tradição negra, contra uma fé legitima e garantida constitucionalmente, a semântica do ativismo se esvazia e este mesmo ativismo se torna mentiroso.

Para finalizar este desabafo, retomo aqui, por meio de uma paráfrase, a fala do Babá Daniel Pereira: nada será feito contra uma racista religiosa assumida e contumaz?

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