Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

assine e leia

Ladeira abaixo

A eliminação da Seleção nas quartas de final da Copa América escancara os problemas do futebol brasileiro

Ladeira abaixo
Ladeira abaixo
A seleção brasileira. Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Apoie Siga-nos no

Agora é terra arrasada, consumada a desclassificação da Seleção brasileira na Copa América, a montanha vem abaixo, não resta pedra sobre pedra. E ainda vêm os comentários maldosos e os mal-intencionados.

É natural a busca das causas do desacerto em que nos meteram. Não são poucas e começam na ausência de jogadores de grande expressão e amadurecidos em quantidade. Temos craques destacados e com boa experiência, mas, faz tempo, a seleção não vai bem das pernas. Há ainda as razões analisadas a partir do desencanto dos torcedores nas ruas, nas redes sociais e nos comentários dos especialistas.

Os “venenos” são como aqueles dos que se aproveitaram da imagem do treinador fora da roda dos jogadores antes da cobrança dos pênaltis e mostram as más intenções. As cobranças foram treinadas durante a preparação e a escolha dos batedores estava feita com antecedência, mas o autoritarismo dessa gente não admite que os indivíduos, no caso os jogadores, tenham ­liberdade de se expressar.

A enxurrada morro abaixo contou ainda com os comentários sobre o individualismo superficial e vaidoso dos jogadores até a comparação com o momento no qual vive a sociedade brasileira, em nossa necessidade de reconstrução. É o que buscamos todos, desde Dorival Jr. em relação à Seleção, dizendo isso reiteradas vezes, sendo também uma necessidade nossa como nação. Não podemos nos esquecer dos longos episódios de crises na administração do futebol brasileiro, com a troca de dirigentes sob acusações graves.

Dou a “mão à palmatória” quando disse que poderia não haver problema maior com a ausência do Vinícius Júnior, o bicho não era tão feio. Talvez com a presença dele pudéssemos ir mais adiante. Mesmo com a boa forma neste momento, há dúvidas se Vini teria rendido muito diante da boa marcação dos adversários.

Uma crítica que também respeito é quanto à ausência de um centroavante típico que pudesse forçar a defesa adversária, mas isso fica na casa do se… Agora é seguir em frente.

A decisão da Copa América será mesmo entre a Argentina, que tem vencido as últimas competições, e a Colômbia, depois de uma campanha absolutamente sensacional, culminando com a semifinal inesquecível contra o Uruguai, quando saiu vencedora de um segundo tempo heroico, com um jogador a menos. Em um campo de dimensões reduzidas, a seleção uruguaia, sem pontas, nem direita nem esquerda, bateu a cabeça no muro, enquanto o tempo passava. Nem o recurso do consagrado treinador argentino Marcelo Bielsa, de lançar o efetivo artilheiro Luis Suárez, resolveu, embora tenha passado perto.

Eurocopa          

Na outra metade do mundo, a ­Eurocopa também caminha para o fim, com várias decisões nas penalidades máximas, mesmo depois de prorrogações com decepções nas perdas de pênaltis e surpresas agradáveis de novas revelações. No fim, resta sempre um campeão. Consta até uma petição na tentativa de remarcar o clássico Espanha e Alemanha, sob a alegação de prejuízo flagrante no encontro realizado entre as duas seleções (VAR).

A final está resolvida, será no domingo 14, entre Espanha e Inglaterra. Os espanhóis vivem um grande momento e fizeram uma campanha mais consistente. Os ingleses valeram-se da tradição para chegar à decisão.

Brasileirão

Enquanto isso, a vida doméstica continua com o Campeonato Brasileiro, reforçado pelos jogadores das seleções eliminadas da Copa América e diante da janela de transferências. Foram bastante debatidas as saídas de Dudu do Palmeiras e de Gabigol do Flamengo. Os torcedores custam a entender. Registro a agonia dos times pendurados na rabeira da tabela, entre eles Corinthians, Grêmio e Fluminense.

Obs.: Vale a pena ler na coluna do Carlos Mansur, de O Globo. A apreciação dos casos recentes da entrada de crianças, cada vez mais jovens, na “roda-viva” do mundo complicado do futebol profissional, com suas implicações financeiras e de grande projeção na mídia nos leva a pensar sobre os rumos do esporte e da sociedade.  •

Publicado na edição n° 1319 de CartaCapital, em 17 de julho de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Ladeira abaixo’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo