Luana Tolentino

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Mestra em Educação pela UFOP. Atuou como professora de História em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e da região metropolitana. É autora dos livros 'Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula' (Mazza Edições) e 'Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil' (Papirus 7 Mares).

Opinião

Januário Garcia: o fotógrafo que registrou a beleza de ser negro

Ele deixa quatro filhos, um legado inenarrável e sentimentos de gratidão, vazio e saudade em todos nós

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Mais uma vez me vejo às voltas com um texto que eu não gostaria de escrever. Na manhã de ontem, 1º de julho, a Covid-19 fez mais uma vítima: Januário Garcia, fotógrafo e militante histórico da luta antirracista no Brasil, que registrou como ninguém a beleza de ser negro. Januário estava internado no Hospital São Lucas, no Rio, onde faleceu aos 77 anos de idade.

Mineiro, Januário Garcia foi voz atuante em um dos momentos mais importantes do enfrentamento ao racismo no País, tendo participado ativamente da fundação do Movimento Negro Unificado, em 1978. Segundo ele, o MNU surgiu para desconstruir o mito da democracia racial, responsável pela invisibilizacao, segregação e silenciamento da população negra. Responsável também pelos abismos que separam brancos e negros no Brasil. Parte dessa história está registrada no livro “1980 a 2005: 25 anos do Movimento Negro”.

Em entrevista concedida ao canal Cultine em 2016, Januário Garcia chamou a atenção, ou melhor, deu um “puxão de orelha” na juventude militante, que, segundo ele, muitas vezes não reconhece e valoriza a importância do movimento negro nas conquistas recentes desse grupo social, seja na educação, na mídia, na publicidade ou em diversos outros setores.

Juntamente com a atriz Zezé Motta, em 1984, fundou o Centro Brasileiro de Informação do Artista Negro – CIDAN. Ao catalogar atores e atrizes negras de todo o Brasil, ambos jogaram por terra o discurso racista e falacioso de que a ausência de artistas afrodescendentes na TV se devia à falta de profissionais.

Como fotógrafo, durante mais de quatro décadas, Januário Garcia fez registros do negro no Brasil, na África e em diversos países da diáspora. Sua genialidade também estampou capas de discos de nomes importantes da música popular brasileira, como Tom Jobim, Chico Buarque, Leci Brandão, Belchior e tantos outros.

Com uma longa trajetória em agências, ele foi categórico ao definir o mercado publicitário no país: “O modelo da publicidade no Brasil se baseia no modelo europeu. A publicidade é um esteio do racismo como ideologia de dominação”.

Januário Garcia deixa quatro filhos, um legado inenarrável e sentimentos de gratidão, vazio e saudade em todos nós.

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