Opinião

Jair Messias Bolsonaro não

O aqui mutilado cronista, por ocasião do Dia de Finados, até chegou a lembrar de sua mãe e das proezas e maquinações eleitorais que ela nos pregava

O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Mauro Pimentel/AFP
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Em 26/10/2022, na minha coluna neste site de CartaCapital, escrevi “Bom resultado do agronegócio não tem a ver com o governo Bolsonaro”.

Com chapéu texano, nada sertanejo, que usa em feiras e eventos da agropecuária, Jair apenas tomou medidas pífias e prejudiciais: facilitou o registro pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) de agrotóxicos proibidos em outros países; belicista, liberou o porte de armas, inclusive aqueles de uso restrito das Forças Armadas a colecionadores, caçadores e milicianos, ainda que disfarçados; fez crescer a liquidação dos patrimônios ambientais e de biodiversidade brasileiros.

O aqui mutilado cronista, por ocasião do Dia de Finados, até chegou a lembrar de sua mãe e das proezas e maquinações eleitorais que ela nos pregava, a Yolanda (1923-2008).

Sabem aquelas características que todas as mães carinhosas têm e quem acha que não, também as tem, mas apenas não as testaram ou prestaram atenção? Assim era Yolanda.

Eu, seu filho único, minha mulher, os netos, sobrinhos, amigos da família, o verdureiro que toda a semana parava o caminhãozinho em nossa rua e atendia ao pedido de Dona Yolanda, enfim, todos adoravam aquela gaúcha de Pelotas (RS), jeitinho baixo-rotundo.

Era matreira, no entanto, a velha. Talvez, origem da luta entre Chimangos e Maragatos. Se viva estivesse, sugeriria a ela consultar o político Onyx Lorenzoni sobre essa passagem da história gaúcha, embora de pouco fosse adiantar. Do alto de sua erudição, ele perguntaria:

– Se bem entendi, a senhora quis dizer: Xismangos e Bolsosfartos? Rachavam e todos ganhavam.

Como já disse, a espertalhona só nos engava em períodos de eleições. Era quando se mostrava cruel. Família toda de esquerda, politizada, a ela indicávamos os melhores candidatos. Jurava voto, mas não cumpria. Na alcova das urnas sufragava os nomes de sua predileção. Sempre diferentes dos nossos. Descoberta, sorria e nos preparava um delicioso arroz de carreteiro.

Seu critério: boa aparência, beleza, ternos bem cortados, camisas impecáveis, luxos de ricaços.

É claro que, generalizado tal critério, Lula nunca seria eleito a porra nenhuma.

Foi assim, em 1989, com Fernando Collor de Mello. Primeiro, o pensou alagoano e o descartou. Quando o descobriu carioca de origem e frequentador assíduo do eixo uísque Logan, relógio Breitling, malas Louis Vuitton, Lilibeth Monteiro de Carvalho. Este sim bem representaria o Brasil.

Tudo o que encantava Yolanda se comparado a um torneiro-mecânico, nordestino, metalúrgico que perdera um dedo numa prensa, e a quem o gaúcho Leonel Brizola apelidou de “sapo barbudo”.

Não teve dúvidas nem pudor. Embora todos soubessem ter votado no Adonis do Alagoas, para não ir tão longe na mentira (era católica fervorosa), disse ter votado em Guilherme Afif Domingos.

Justificou-se: “Era árabe como nossa família”. Não colou.

Ocorrido o impeachment de Collor (1992), ela castigou a todos seus admiradores eximindo-se, por seis meses, a oferecer-lhes deliciosos quitutes.

Na sequência veio Fernando Henrique Cardoso. Este sim, um intelectual morador de Higienópolis e não do ABC paulista.

Hoje, Yolanda estaria com 99 anos de idade. Lula, em quem todo o meu entorno votou, venceu o Regente Insano Primeiro. Não sei se desta vez teria nos traído. Creio que não. Creio que com o apoio do Papa Francisco nunca admitiria um ogro insano na presidência de sua bondade.

Inté!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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