Frente Ampla

Jacarezinho não foi acidente. Esse genocídio precisa acabar!

Vidas foram paralisadas pelo que Cláudio Castro, Bolsonaro e tantos outros chamam de segurança pública, escreve Monica Francisco (PSOL)

Jacarezinho não foi acidente. Esse genocídio precisa acabar!
Jacarezinho não foi acidente. Esse genocídio precisa acabar!
Moradores do Jacarezinho lavam ruas de sangue após operação policial. Foto: Reprodução
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Mal abrimos os olhos e já nos deparamos com trabalhadores, a caminho dos seus locais de labuta, dentro do transporte público, sangrando. Não foi acidente. Era mais um episódio da violência urbana que assola o Rio de Janeiro. Sim, o braço armado do Estado alvejava a Favela do Jacarezinho. No decorrer do dia, o cenário só piorou. Um rastro de sangue e bala acuou moradores dentro de casa: mães, grávida de 9 meses, noiva, toda sorte de profissionais tiveram suas vidas paralisadas, pelo que o governo Cláudio Castro (PSC), Bolsonaro e tantos outros chamam de segurança pública.

O Estado, que tem dever de cumprir leis e prover o bem-estar, não se furta em descumprir a ADPF 635 do Supremo Tribunal Federal, que proíbe operações durante a pandemia e exige justificação por escrito e comunicação imediata ao Ministério Público do Rio de Janeiro, sob pena de responsabilização civil e criminal, para aceitar exceções.

Mas no Jacarezinho o que prevaleceu foi o desrespeito à inviolabilidade do lar: com invasões a casas, quebra, quebra e outras violências. A tensão não cessou. E o que moradores denunciam, são ruas lavadas de sangue, corpos sendo expostos em posição de deboche e desrespeitos profundos a todas as mães, crianças, trabalhadoras/trabalhadores que ali vivem. O dia ainda não acabou, mas já sabemos que pode ter acontecido a maior chacina em uma operação oficial das polícias, com 25 mortos.

Esse massacre ocorre quando se fala tanto da abertura da economia, das perdas de postos de trabalho e desemprego recorde. Milhares de trabalhadores do Jacarezinho se viram impossibilitados de ir ao trabalho hoje ou tiveram de arriscar a vida para sair de casa.

Não vamos fechar os olhos. Moradores de favela são cidadãs e cidadãos.

Vamos oficiar o Ministério Público, requerendo informações sobre a notificação das polícias ao órgão sobre a ação no Jacarezinho. Vamos juntos com todos os órgãos de direitos humanos, em especial a Comissão de Direitos Humanos da Alerj acompanhar os desdobramentos para tomar todas as medidas cabíveis contra violações de direitos. É urgente rever a política de segurança pública deste Estado. Segurança não é confronto!

Não aceitaremos a “justificativa” de que todos os mortos eram suspeitos. Nossa Constituição não prevê pena de morte e é obrigação dos agentes da lei, assim como de todos nós, respeitarem a Constituição. A favela tem direitos! No meio do genocídio da pandemia, vemos que o genocídio da população negra, favelada e periférica não dá trégua.

Esse genocídio precisa acabar!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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