Alberto Villas
[email protected]Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'
Alberto Villas desfia suas promessas não-cumpridas da virada de ano
Todo final de ano ele faz tudo sempre igual.
Compra uma bela romã importada, paga os
olhos da cara para, no último dia do ano,
debulhar a fruta, chupar os caroços, separar
sete, deixar secando e embrulhar num papel
pardo para ficar o ano inteiro guardado dentro
da carteira de dinheiro.
Na Papel Kraft, ele compra um belo papel para
embrulhar três folhas secas de louro em cada
pacotinho e distribui entre os amigos. O dele,
faz companhia aos caroços de romã e uma
nota de 1 dólar que há décadas permanece no
fundo da carteira. Dizem até que esse modelo
já saiu de circulação e está sem valor.
Nas primeiras horas do ano, ele bate um prato
de arroz com lentilhas e cebolas fatiadas e
caramelizadas por cima, uma dica dada pela
repórter Ananda Apple no SPTV, no início do
ano 2000. Tudo isso pra dar sorte.
No réveillon, ele veste de branco dos pés à
cabeça, joga palmas no mar para Iemanjá e
pula sete ondas. No ano em que festejou a
virada em Barcelona, comeu doze uvas verdes,
uma atrás das outra acompanhando as
badaladas dos sinos da cidade.
Em Bogotá, meia-noite em ponto, ele deu uma
volta no quarteirão arrastando uma mala vazia
porque os colombianos acreditam que, desta
maneira, muitas viagens virão durante o ano
que se inicia.
Ele acorda no primeiro dia do ano e lê, ainda
na cama, o horóscopo para o ano novo no livro
de Joseph Polansky e pensa duas vezes antes
de colocar o pé direito no chão. Aí faz suas
promessas.
Ler um livro por semana
Não tomar Coca-Cola
Não comer frituras
Caminhar cinco quilômetros por dia
Não sair de casa sem passar protetor solar
Não chamar o cachorro de filho
Não criticar o Jornal Nacional
Não ouvir os comentários imbecis do Augusto
Nunes
Tomar um café com o Marcio Gomes
Não sofrer quando o América Mineiro perde
Terminar o livro que está escrevendo há três
anos
Ir mais a Belo Horizonte ver os irmãos, os filhos
e netos
Tomar banho mais morno
Beber café sem açúcar
Por menos sal na comida
Entrar pro Vigilantes do Peso
E por aí vai
Já se passaram dez dias de janeiro de 2021 e
ele jura que até dezembro toma o café
combinado com o Marcio Gomes desde que
ele voltou do Japão.
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
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