Alberto Villas

villasnews@uol.com.br

Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Já se foram mais de dez dias de dois mil e vinte e um

Alberto Villas desfia suas promessas não-cumpridas da virada de ano

Já se foram mais de dez dias de dois mil e vinte e um
Já se foram mais de dez dias de dois mil e vinte e um
Apoie Siga-nos no

Todo final de ano ele faz tudo sempre igual.
Compra uma bela romã importada, paga os
olhos da cara para, no último dia do ano,
debulhar a fruta, chupar os caroços, separar
sete, deixar secando e embrulhar num papel
pardo para ficar o ano inteiro guardado dentro
da carteira de dinheiro.

Na Papel Kraft, ele compra um belo papel para
embrulhar três folhas secas de louro em cada
pacotinho e distribui entre os amigos. O dele,
faz companhia aos caroços de romã e uma
nota de 1 dólar que há décadas permanece no
fundo da carteira. Dizem até que esse modelo
já saiu de circulação e está sem valor.

Nas primeiras horas do ano, ele bate um prato
de arroz com lentilhas e cebolas fatiadas e
caramelizadas por cima, uma dica dada pela
repórter Ananda Apple no SPTV, no início do
ano 2000. Tudo isso pra dar sorte.

No réveillon, ele veste de branco dos pés à
cabeça, joga palmas no mar para Iemanjá e
pula sete ondas. No ano em que festejou a
virada em Barcelona, comeu doze uvas verdes,
uma atrás das outra acompanhando as
badaladas dos sinos da cidade.

Em Bogotá, meia-noite em ponto, ele deu uma
volta no quarteirão arrastando uma mala vazia
porque os colombianos acreditam que, desta
maneira, muitas viagens virão durante o ano
que se inicia.

Ele acorda no primeiro dia do ano e lê, ainda
na cama, o horóscopo para o ano novo no livro
de Joseph Polansky e pensa duas vezes antes
de colocar o pé direito no chão. Aí faz suas
promessas.

Ler um livro por semana
Não tomar Coca-Cola
Não comer frituras
Caminhar cinco quilômetros por dia
Não sair de casa sem passar protetor solar
Não chamar o cachorro de filho
Não criticar o Jornal Nacional

Não ouvir os comentários imbecis do Augusto
Nunes
Tomar um café com o Marcio Gomes
Não sofrer quando o América Mineiro perde
Terminar o livro que está escrevendo há três
anos
Ir mais a Belo Horizonte ver os irmãos, os filhos
e netos
Tomar banho mais morno
Beber café sem açúcar
Por menos sal na comida
Entrar pro Vigilantes do Peso
E por aí vai

Já se passaram dez dias de janeiro de 2021 e
ele jura que até dezembro toma o café
combinado com o Marcio Gomes desde que
ele voltou do Japão.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo