Liszt Vieira

Professor de sociologia aposentado da PUC-Rio. Foi deputado (PT-RJ) e Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92. Autor, entre outros livros, de A democracia reage (Garamond)

Opinião

IPCC: Transição energética é primeiro passo, mas a sobrevivência da humanidade exigirá uma transformação ecológica

É provável que o mundo ultrapasse um limite perigoso de temperatura nos próximos 10 anos, empurrando o planeta para além do ponto de aquecimento catastrófico

O secretário-geral da ONU, António Guterres. Foto: Fabrice Coffrini/ AFP
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O sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC), lançado em março de 2023, fez um grave alerta sobre as consequências das mudanças climáticas, sem precedentes na história recente da humanidade. Os impactos do clima nas pessoas e nos ecossistemas são mais generalizados e graves do que o esperado, e os riscos futuros aumentarão rapidamente a cada fração de grau de aquecimento.

Em toda parte, já começamos a sentir os efeitos dos eventos climáticos extremos, como secas, inundações, desertificação, ciclones, terremotos etc., com fortes impactos na produção agrícola e no agravamento da insuficiência alimentar e da fome nas regiões mais empobrecidas do planeta. Mas as ações dos governos e das empresas continuam muito aquém do mínimo necessário para enfrentar o grave problema das mudanças climáticas.

No que se refere ao Brasil, o nível de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em 2021 teve a maior alta desde 2003. Segundo relatório do Observatório do Clima, o crescimento em 2021 atingiu 12,2%, equivalente a 2,42 bilhões de toneladas brutas de GEE, e foi puxado por desmatamento, energia e agropecuária.

O IPCC conclui que há mais de 50% de chance de que o aumento da temperatura global atinja ou ultrapasse 1,5 graus C entre 2021 e 2040. Num cenário de altas emissões, o mundo pode atingir esse limiar ainda mais cedo – entre 2018 e 2037.

É necessário abandonar rapidamente a queima de combustíveis fósseis – a causa número um da crise climática, embora no Brasil o principal vilão das emissões de GEE seja o desmatamento. Limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus C ainda é possível, mas isso exige ação imediata. Como o IPCC deixa claro, o mundo precisa atingir o pico das emissões de GEE antes de 2025, o mais tardar, reduzir quase pela metade as emissões de GEE até 2030 e atingir emissões líquidas zero de CO2 em meados do século, ao mesmo tempo em que garante uma transição justa e equitativa.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, comentou o novo relatório do IPCC, e tratou a crise climática como uma bomba-relógio.

“Este relatório é um apelo para acelerar maciçamente os esforços climáticos de todos os países e setores, e em todos os prazos. Resumindo, nosso mundo precisa de ação climática em todas as frentes: tudo, em todo o lugar, ao mesmo tempo.”

É provável que o mundo ultrapasse um limite perigoso de temperatura nos próximos 10 anos, empurrando o planeta para além do ponto de aquecimento catastrófico – a não ser que as nações transformem drasticamente suas economias e se afastem imediatamente dos combustíveis fósseis.

De acordo com o atual Relatório do IPCC, o mundo provavelmente superará sua meta climática mais ambiciosa – limitando o aquecimento a 1,5 graus Celsius acima das temperaturas pré-industriais – até o início da década de 2030. Além desse limite, afirmam os cientistas, os desastres climáticos se tornarão tão extremos que as pessoas não conseguirão se adaptar. Os componentes básicos do sistema da Terra serão fundamental e irrevogavelmente alterados. Eventos climáticos extremos como secas, inundações, ciclones, terremotos, ondas de calor, fome, doenças infecciosas etc. podem ceifar milhões de vidas até o final do século.

Em suma, o mundo deverá atingir 1,5 °C de aquecimento mais cedo do que o previsto anteriormente. Limitar o aquecimento global a 1,5°C até o final do século ainda é possível, mas requer decisões políticas rápidas e corajosas, pois as mudanças que já estão ocorrendo não têm precedentes na história recente e afetarão todas as regiões do globo, prejudicando, como sempre ocorre, as regiões mais pobres.

A transição energética para energias renováveis é o primeiro passo, mas a sobrevivência da humanidade no planeta vai exigir uma transformação ecológica, ou seja, uma profunda mudança no atual modo capitalista de vida e de produção.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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