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Invasão russa

A gigante siberiana Svetofor chega ao Brasil e planeja abrir 50 lojas “megabaratas” nos próximos três anos

Invasão russa
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Svetofor, a gigante russa que pretende expandir atuação no mercado brasileiro. Foto: Divulgação
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O atacarejo consolidou-se como o principal destaque do varejo nacional nas últimas duas décadas. Lojas amplas, embalagens diferenciadas, preços competitivos e promoções para compras em volume transformaram essas grandes unidades sem luxo nas preferidas dos consumidores. O efeito é visível nos números: em 2024, as 22 maiores empresas do setor faturaram 330,2 bilhões de reais, crescimento de 10,45% sobre o ano anterior.

O valor expressivo impulsiona fusões e aquisições no setor, além de atrair novos players. Uma novidade é a entrada dos russos no atacarejo brasileiro: o Grupo Svetofor planeja abrir 50 lojas em três anos no modelo ultra hard discount, com preços baixos, marcas populares e infraestrutura mínima. Batizada de Vantajoso­, a marca mira o Sudeste e busca atender à demanda das periferias dos grandes centros urbanos. A primeira unidade será inaugurada ainda em 2025, na cidade de Americana, no interior de São Paulo.

O Svetofor foi criado em 2009, na cidade siberiana de Krasnoyarsk, pelos irmãos Sergei e Andrei Schneider. A estratégia de crescimento, centrada em preços baixos, permanece a mesma desde o início e destacou a rede entre as cinco maiores varejistas de alimentos da Rússia. Seguindo essa lógica, a Vantajoso deve operar também com marcas menores e pouco conhecidas. O que importa é o preço.

Ganha-ganha

O Mercado Livre e a Casas Bahia anunciaram um acordo que promete impactar o mercado e deve ser a grande novidade da Black Friday deste ano. A Casas Bahia venderá seus produtos na plataforma, com autonomia sobre preços e portfólio, evitando a concorrência com seu próprio e-commerce. Para o Mercado Livre, a parceria reforça a oferta de eletrodomésticos e móveis e atrai mais consumidores em busca de produtos de maior valor.

Em 2024, a receita líquida do Grupo Casas Bahia foi de 27 bilhões de reais. O crescimento de 7,6% em relação ao ano anterior marca a recuperação da companhia, após um processo de reestruturação interna. Já o Mercado Livre encerrou o ano passado com uma receita líquida de 120 bilhões de reais, ocupando posição de liderança no ­e-commerce da América Latina.

A grande beneficiada no curto prazo é a Casas Bahia, que ganha capilaridade, novo público e pode reduzir riscos operacionais. As ações da empresa valorizaram 18% após o anúncio do acordo de negócios. Para o Mercado Livre, a nova operação fortalece o portfólio e consolida sua posição no segmento de eletro e móveis brasileiros, aumentando o ticket médio.

Resultados borbulhantes

A Femsa, engarrafadora de ­Coca-Cola, divulgou seus resultados do terceiro trimestre de 2025. O volume total da companhia caiu 0,6%, mas a receita líquida cresceu 3,3%. O lucro operacional aumentou 6,8% e a margem líquida subiu 0,7% em relação ao mesmo período de 2024.

A divisão sul-americana registrou desempenho expressivo: o volume aumentou 2,6%, puxado especialmente pelos mercados brasileiro, colombiano e argentino. A receita da região subiu 8,7%. Os resultados demonstram que as apostas de queda acentuada no consumo, provocada pela crescente rejeição a bebidas açucaradas, estão supervalorizadas.

Análises como essa tendem a descartar o fator renda e indulgência. Com o aumento dos rendimentos, a corrida não é por produtos mais saudáveis, e sim pela possibilidade de consumir o que dá prazer. Acontece em todos os mercados. Mais dinheiro no bolso não significa mais brócolis na mesa. Tanto é assim que, apesar dos prognósticos catastróficos, o setor projeta um crescimento de 3,8% neste ano. Modesto, mas consistente.

Bienvenidos hermanos

O turismo internacional no Brasil vive um período de bonança. De janeiro a setembro de 2025, os visitantes estrangeiros injetaram 6,04 bilhões de dólares na economia brasileira, um novo recorde para o período. O crescimento foi de 11,7%, ante os mesmos nove meses de 2024.

Setembro de 2025 também bateu recorde, com receita de 595,6 milhões de dólares, um salto de 12,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O volume de turistas estrangeiros chegou a 7.099.237 nos primeiros nove meses, superando o recorde anual de 2024 e ultrapassando, ainda em setembro, a meta estabelecida pelo Plano Nacional de Turismo.

A maior parte desses visitantes, mais de 2 milhões, veio da Argentina. A valorização do peso fez com que os argentinos voltassem para os aeroportos e desembarcassem por aqui. •

Publicado na edição n° 1386 de CartaCapital, em 05 de novembro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Invasão russa’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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