Opinião

Incongruências na terra de Bolsonaro, o Regente Insano Primeiro

Vamos aos suplícios, de há muito previstos, agora constatados em tom maior

Posse de Jair Bolsonaro
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Pode parecer implicância. E é. Diante de tantas incongruências e disritmias, como dançar no compasso da situação? É quando me chega à memória o escritor, cartunista e jornalista Millôr Fernandes (1923-2012). “Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.”

Vez ou outra, em governos passados, mesmo se ditaduras, poder-se-ia mostrar alguma benevolência. Tirar um elogio da cartola. Digamos, oficializarmo-nos, ainda que durasse pouco tempo. Infelizmente, o Regente Insano Primeiro até disso nos priva.

Vamos aos suplícios, de há muito previstos, agora constatados em tom maior.

Petrobras

Seu presidente, Roberto Castello Branco, afirma que a empresa diminuirá os investimentos em fontes renováveis, limitando-se apenas à área de pesquisa. Pouco, portanto, e na contramão das concorrentes europeias, da política energética norte-americana, e da sanidade do planeta. Alega que os biocombustíveis não dão retorno financeiro adequado.

O fato confirma o que disse o geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da empresa, entre 2003 e 2012, Guilherme Estrella, figura proeminente para viabilizar a exploração da camada pré-sal: “No momento, a estatal passa por um processo de esquartejamento”.

A respeito da transição de energias fósseis para as renováveis, não é o que aponta relatório, divulgado no IPCC, Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (na sigla em inglês), da ONU, elaborado por 103 cientistas de 52 países.

Nos ombros das energias fósseis são jogados riscos associados a “clima, desertificação, escassez hídrica, mudança no regime de chuvas, incêndios florestais e insegurança alimentar”, conforme Andrea Vialli, para o Valor (4/9).

Da mesma forma, o que tenho apontado frequentemente na coluna, manejos e insumos de características orgânicas e naturais, devem ser aplicados na agropecuária para manter o estoque de carbono no solo, evitando ele ser lançado na atmosfera.

Daí o planeta precisar ampliar a produção de biocombustíveis, de modo sustentável e sem concorrer com a produção de alimentos. Mas isto o Brasil sempre fez. De agora em diante, não sei mais. Condições temos para isso, inteligência de Estado não mais.

A Petrobras sempre desempenhou papel importante para a evolução de energia de fontes renováveis. Por que desiste? Ora, porque, em breve, se permitirmos, não terá mais ativos.

Nos cafezais mineiros

Semana passada, Andanças Capitais, munidas de lupas, cruzaram trilhas na Serra da Mantiqueira. A beleza da paisagem e de seus caboclos é estonteante. Foram 1.300 km de cansaço e satisfação.

A produção de café (90% já colhidos) seguiu a característica bienal. A safra 2018/2019 foi de baixa. Em maio, a Conab estimava 51 milhões de sacas de 60 quilos, com queda de 22% e 2%, respectivamente, para as variedades arábica e conilon, em relação à safra anterior.

O perrengue não estaria aí. A isso se acostumaram. Ainda mais quando o bolso está furado para investir em tecnologia. Ele vem é dos preços de comercialização pouco remuneradores. A saca de 60 quilos de bom café, mal chega nos 400 reais no mercado interno, e quando escrevo a bolsa de futuros em NY aponta 112 dólares.

Acontece que se o Brasil desceu o morro da produção, o mundo subiu e fez a oferta aumentar. Segundo a OIC, a Organização Internacional do Café, a produção mundial será próxima de 175 milhões de sacas.

Não, não se apresse. Não percam seus tempos procurando conferir isso nos supermercados de suas cidades. Neles nada muda.

Mas não só

Nem só de café, no entanto, vivem as Minas Gerais da Mantiqueira. Na ‘rodança’, visitamos excelentes campos de batatas, morangos e hortaliças, com tratamentos pouco agressivos em agrotóxicos; lavouras de milho, soja e feijão sendo preparadas; centenas de estufas para olericultura; plantações de flores diversificadas; fazendas modernas retireiras de leite; e uma comida feita em fogão de lenha de tirar o chapéu.

Nenhuma queimada. Inté.

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