

Opinião
Hora de cuidar
Um novo plano de ação nacional visa reduzir os casos e o número de óbitos por dengue e outras arboviroses, como chikungunya e zika


De janeiro a agosto deste ano foram notificados 6,5 milhões de casos prováveis de dengue no Brasil. Isso equivale a três casos para cada cem brasileiros, aumento de 300% em relação ao mesmo período em 2023.
São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Goiás e o Distrito Federal concentraram 88% dos casos.
Esse número, provavelmente, foi muito maior, já que alguns serviços médicos não notificam os casos às autoridades sanitárias. Além disso, um número expressivo de pessoas não apresenta ou tem poucos sintomas, enquanto outras, mesmo sofrendo muito, simplesmente não procuram os serviços de saúde e ficam também de fora das estatísticas.
A crise climática, com o aumento global de temperaturas e secas em todo o País, associada à perspectiva de muita chuva e calor nos próximos meses, favorece a proliferação do mosquito Aedes aegypt, vetor da dengue e de outras arboviroses, como chikungunya, zika e febre oropuche, tornando ainda mais desafiadores a prevenção e o controle dessas doenças.
Em maio deste ano, o Ministério da Saúde reuniu 150 especialistas em uma Oficina Internacional sobre Arboviroses, para discutir ações mais atualizadas e novas tecnologias para reduzir o impacto da dengue e das demais arboviroses na saúde da população.
No dia 18 de setembro, no Palácio do Planalto, o presidente Lula e a ministra da Saúde, Nísia Trindade, reuniram secretários estaduais e municipais de Saúde, além de outras autoridades sanitárias e a imprensa, para lançar o Plano de Ação para Redução da Dengue e de Outras Arboviroses para o período sazonal de 2024 e 2025, sob o lema “A Hora de Cuidar É Agora”.
O objetivo é reduzir os casos prováveis e o número de óbitos por dengue, chikungunya, zika e oropuche. Para isso, foram anunciadas ações divididas em seis eixos.
O primeiro diz respeito à prevenção e indica ações já conhecidas, como os “10 Minutos Contra a Dengue”, que convoca a população a fazer a sua parte, eliminando os criadouros domiciliares, com apoio dos Agentes Comunitários de Saúde e de Controle de Endemias, visando à redução dos focos de proliferação do mosquito.
Além disso, prevê a incorporação progressiva da vacina contra a dengue, cuja oferta ainda continua dependendo da capacidade de produção restrita de um laboratório japonês.
A boa notícia é que a Anvisa, em breve, deverá avaliar a vacina produzida pelo Instituto Butantan. Se aprovada, há expectativa de produção de 1 milhão de doses no próximo ano e de 60 milhões em 2026. Outra ação importante será fazer uma busca ativa dos que já tomaram a primeira dose da vacina e não retornaram para a segunda.
O segundo eixo trata da Vigilância e priorizará a atualização do Infodengue e a vigilância dos vírus e transmissores. O monitoramento das informações é fundamental para orientar as ações.
O controle do mosquito é o terceiro eixo do Plano. Prevê a implantação de estações disseminadoras de larvicidas em áreas mais vulneráveis e o uso de insetos estéreis em aldeias indígenas. Pretende-se investir na biofábrica e ampliar a utilização do mosquito Wolbachia, que apresentou resultados muito positivos em Niterói, Campo Grande e Petrolina, e está sendo utilizado em Foz do Iguaçu, Londrina e Joinville.
O quarto eixo será dedicado à preparação e à organização da rede de saúde para diagnóstico e tratamento adequados dos casos. Os protocolos clínicos e as diretrizes serão atualizados e haverá o lançamento de um novo guia de manejo clínico de chikungunya. Grupos estratégicos darão apoio técnico aos gestores municipais e estaduais. Os hospitais universitários federais, geridos pela Ebserh, apoiarão a capacitação dos trabalhadores e a organização da rede.
O quinto prevê a preparação à resposta às emergências, atualizando o Plano de Contingência Nacional, com políticas regionais e alinhamento das ações com estados e municípios.
O último eixo, por sua vez, diz respeito ao investimento em comunicação e participação comunitária, com um plano estratégico de comunicação e seminários para sensibilização e capacitação para jornalistas, comunicadores e influenciadores comunitários.
O Ministério da Saúde ampliará o repasse de recursos para os municípios e utilizará 1,5 bilhão de reais para execução das ações previstas no Plano.
No próximo ano, tudo será (ou poderá ser) muito diferente, a depender do grau de adesão e do compromisso de cada um de nós no enfrentamento da dengue e das outras arboviroses. •
Publicado na edição n° 1330 de CartaCapital, em 02 de outubro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Hora de cuidar ‘
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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