Histeria do sionismo e da direita comprova que Lula está certo

A decisão de desumanizar e assassinar palestinos se assemelha sim à decisão de desumanizar e assassinar judeus pelo nazismo. A base moral é a mesma

O presidente Lula durante discurso na cúpula da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia — Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

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“O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”. É este o trecho da fala de Lula que vem gerando histeria no sionismo e em seus satélites de direita e extrema-direita.

A carta do antissemitismo, principal arma retórica contra os que se opõem ao genocídio em Gaza, foi, obviamente, usada contra o mandatário, junto a sucessivas acusações de “banalização do Holocausto”.

Mas onde Lula cita o Holocausto em seu discurso? Em nenhum momento. Como bem observou Valter Pomar, a decisão de matar judeus foi um ponto de partida do nazismo, sendo a “Solução Final” e o Holocausto o seu ponto de chegada. Lula não falou deste ponto.

Os nazistas falavam em “vírus judaico-bolchevique” para justificar a aniquilação de judeus. A condição étnico-religiosa era ladeada à orientação política e ideológica, somada ao fato de alguns líderes da Revolução de 1917 terem origem judaica, como Trotsky. Isolados, judeus e comunistas já integravam os alvos preferenciais do nazismo. A sobreposição dessas características conferia, no olhar dos nazistas, uma legitimidade ainda maior para assassiná-los.

O nazismo, vindo da tradição colonial, abusou do acúmulo de experiências como a da Índia britânica e da conquista do oeste nos EUA, com a dizimação, deportação e prisão de povos nativo-americanos. O traço mais evidente deste acúmulo é a desumanização: se judeus, comunistas, negros, indígenas, ciganos, eslavos, homossexuais, não eram seres humanos, mas ratos ou baratas, não havia obstáculos morais para que os nazistas os matassem. Esta é a lógica do mundo colonial.

Assim, quando Hitler decidiu matar judeus, partiu da premissa de que não eram seres humanos. O sionismo emula o nazismo ao desumanizar o povo palestino: Yoav Gallant, ministro da Defesa de Tel Aviv, justificou o cerco a Gaza dizendo que Israel estaria “lutando contra animais”. Uma vez que não são gente, está autorizado bombardear hospitais, escolas, matar crianças e impedir o fornecimento de águas, gás, combustíveis e alimentos à região palestina. Não foi Lula, mas a insuspeita Hannah Arendt que concluiu que o sionismo “não é mais que a aceitação acrítica do nacionalismo de inspiração alemã”.


Não é coincidência que o embargo econômico e o controle de entrada de bens de primeira necessidade, matando o povo local por inanição, também façam parte das ações de Israel contra o povo palestino. Assim foi feito com o Haiti após a revolução que deu fim à escravidão entre os séculos XVIII e XIX. Assim foi feito com o Iraque na década de 90, com centenas de milhares de crianças mortas em razão das sanções. Assim foi feito com a China e a Rússia revolucionárias. Assim é feito com Cuba.

Israel transformou Gaza em gueto, controlando todas as suas saídas e entradas. Uma prisão a céu aberto onde os bombardeios já mataram 30 mil pessoas, a maioria mulheres, adolescentes e crianças. Desde sempre Israel repele a reivindicação legítima dos palestinos de retornarem à terra da qual foram expulsos violentamente após 1948, incentivando, ao mesmo tempo, que judeus de todo o planeta migrem para lá e expandam a colonização para os territórios que os palestinos ocupam hoje.

O nome disso é limpeza étnica, afirma o filósofo italiano Domenico Losurdo. A decisão de desumanizar e assassinar palestinos se assemelha sim à decisão de desumanizar e assassinar judeus pelo nazismo. A base moral é a mesma. E os judeus, enquanto nação, não têm qualquer responsabilidade disso. O estado sionista de Israel e quem o apoia sim.

Lula está mais do que certo.

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4 comentários

João José de França Neto 21 de fevereiro de 2024 22h30
Gustavo Freire__ a lucidez que vem da Academia potiguar. Salve Carta Capital.
Eddye Mannerich 24 de fevereiro de 2024 20h31
Então o Hamas deve atacar os SIONISTAS PODEROSOS, e não mulheres e crianças indefesas. A centena de reféns remanescente é de que tipo de judeu? Israel se refere à assassinos terroristas que assaram crianças, quando duz que a luta é contra animais. Mas vcs jornazistas, deturpam e informam fake news dizendo que é sobre o povo palestino todo. Hamas é terrorismo e fundamentalismo religioso. Essa gente tem em seu estatuto A DESTRUIÇÃO TOTAL DE ISRAEL. Essa gente derrubou as torres gêmeas. Essa gente comemora toda vez que torturam, estupram e matam inocentes, só por que os consideram infiéis, ou se converte ao Islão ou morre.
Gilberto Nogueira Gonçalves 27 de fevereiro de 2024 15h37
Gilberto Nogueira Gonçalves 27 de fevereiro de 2024 15h55
Para que se faça a justiça dos homens os Sionistas extrema direita violentos deverão ser responsabilizados pelos assassinatos um a um dos mais de trinta mil palestinos, crianças, adolescentes, mulheres, idosos e idosas também os colonos que fizeram assassinos, dos quais deverão entregar para os palestinos todos os territórios colonizados com suas propriedades intactas e deverão também indenizar por toda a destruição realizada na FG e pelo sofrimento de todos os palestinos individualmente , também devolverem o território palestino anterior a guerra para que seja ali efetivado o País palestino, e por último se arrependerem diante de DEUS criador do Universo, princípio e fim de todas as coisas Falei e disse!

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