Opinião

Gerônimo e a grande safra

Conheço centenas de agrônomos que disseram para passar seus labores diários para soja – esqueçam, ou irão se estrepar

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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Gerônimo dos Santos Silva nasceu há 28 anos, em Cabrobó, Pernambuco. Quando o pai viúvo morreu, deixou para os três filhos um pedaço de vinte hectares de terra, que o ajudara a criá-los. Naquela área de terra, família trabalhando junto, criava ovíparos – ovelhas e carneiros, também caprinos –, bodes, cabras e cabritos. Separava um espaço de uns cinco hectares para o milho ajudar na alimentação do rebanho.

Cuscuz, bolos, nos dias de festas, canecas de leite de cabra para reforçar o café da manhã, saíam das fêmeas mais prolíferas. Quando sobrava, saía um queijinho virado em sabor da Serra da Canastra nas mãos de habilidosa sobrinha que vivera lá praquelas bandas de Minas Gerais.

Painho não tinha muitos fregueses e, se os tivesse, a produção não daria conta. Os poucos, no entanto, eram fiéis e amigos. A simpatia e a bondade de Justino, ou Justão, como era conhecido nas aldeolas do semiárido nordestino, pai de Gerônimo, tinha seus compradores de ‘cardeneta’. Todos pagavam nos dias certos, agradecidos, pouco dinheiro, mas o suficiente.

Tratava-se da mesma novela, como muitas outras, escritas como a seminal Romeu e Julieta (1591/1595), de William Shakespeare, e reescritas, no início do XVII, por outros autores. Na paz do sertão tropical.

A quem ainda está longe de meus 80 anos (dois anos), e sofre menos com o final anunciado, peço a clarividência de acompanhar os tempos finais. Bondade, firmeza, destemor de opiniões e, mais do que tudo, desprezo ao que lhes falam, principalmente, de opiniões políticas. Vêm de fariseus que não entenderam o texto ficcional Bíblia Sagrada, principalmente o chamado “Primeiro Testamento”, que disputaria qualquer roteiro adaptado do britânico Alfred Hitchcock (1899 – 1980). Por exemplo, Suspicion (1941) seria minha primeira aposta. Façam as suas.

No Brasil, por exemplo, vê-se o desclassificado ex-presidente Jair Messias Bolsonaro testando sua real sobrevivência política, em suposto movimento de restabelecimento próprio de imagem, na Avenida Paulista, São Paulo (local amaldiçoado e reservado a privilegiar quem cego à miséria pública). Foder-se-á! Não entendeu e apoiadores não entenderam que o ethos brasileiro foi usado para se eternizar, jogado fora, pois para nós a vitória de Lula deu mostras de futuro crescimento, dignidade política e soberania.

Para vocês, amigos leitores de CartaCapital, continuem assim como a sua lavoura. Conheço centenas de agrônomos ou técnicos agrícolas que passaram por aí e lhes disseram para passar seus labores diários para soja – esqueçam, ou irão se estrepar.

– Mas, amigo de CartaCapital, me explica melhor. Foram muitos técnicos agrícolas, agrônomos, donos de lojas agrícolas que aqui passaram dizendo que estava errando há 50 anos em minha área.

– Gasta muito dinheiro, trabalho custoso, baixo retorno, nenhum apoio do governo ou dos bancos e de seus gerentes. Por que não vai além? Cem hectares de soja, é a glória. É mesmo?

Volto ao assunto mostrando os porquês.

Inté!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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