Opinião

Geni Núñez e a descolonização dos afetos

Quanta energia positiva será liberada na medida em que as mulheres estejam mais seguras, mais livres do trabalho não remunerado, para poderem gozar de tempo de lazer, de prazer e convívio! 

A injustiça entre os gêneros pode ser medida na forma como mulheres e afrodescendentes, que são a maioria da população, ainda permanecem dominados e oprimidos. Geni Núñez busca desvendar as razões desse morticínio (Foto: Reprodução)
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“Nos últimos anos, tem crescido a visibilidade das discussões sobre o tema da monogamia e não monogamia. No entanto, apesar de essa visibilidade ser mais recente, essa não é uma questão nova. Temos registros históricos desses embates que vêm desde 1500 em nosso território. Venho buscando analisar de que maneira a colonização iniciou seu projeto de imposição de uma monocultura dos afetos, que persiste desde 1500 até os dias de hoje.”

Geni Núňez.
Há vários motivos para se comemorar o retorno da democracia, com a reeleição de Lula, para um terceiro mandato, em 2022.
Talvez, o principal seja a lenta redução das desigualdades, o que não é pouco, em um dos países mais iníquos do mundo.
A injustiça entre os gêneros pode ser medida na forma como mulheres e afrodescendentes, que são a maioria da população, ainda permanecem dominados e oprimidos por uma minoria de homens brancos.
Em Descolonizando Afetos – experimentações sobre outras formas de amar (editora Paidós), Geni Núñez busca desvendar as razões desse morticínio.
Aponta, em primeiro lugar, para a imposição colonial da monogamia, aclarando que, ao contrário do entendimento corrente, o antônimo da monogamia não é a poligamia, mas a não-monogamia.
No esforço de mostrar que a monogamia é resultado da imposição cultural colonial, a ela inerente e funcional, a autora observa: “…por vezes somos ensinados/as/es a associar opressão, racismo e demais violências a algo relacionado com o ódio, ao mal; mas para contracolonizar, ou seja, para fazer um esforço contrário à colonização, precisamos reconhecer que é justamente em nome do bem, da família e do amor que a maior parte das violências se perpetua.”
Com precisão, aduz: “Diversas pesquisas têm pontuado que ser uma mulher casada em uma relação heteronormativa acrescenta dezenas de horas de trabalho semanais a essas mulheres. Não à toa, os setores mais conservadores da política brasileira sempre tiveram como pauta ‘a defesa da família’, pois sabem que é por meio dessa instituição que uma série de violências e explorações é garantida, inclusive do ponto de vista financeiro. Mulheres, especialmente as não brancas, mães, empobrecidas, trabalham gratuitamente para a ‘família’, garantindo serviços diários de limpeza, alimentação, cuidado das crianças etc., como mostram os estudos interdisciplinares acerca da (re) produção social.”
Núñez complementa: “O acúmulo de tarefas que o sistema monogâmico misógino e capitalista atribui às mulheres é o que lhes ‘tira’ o tempo, não só para ter outros vínculos afetivo-sexuais, mas para ter um espaço para o descanso, o lazer, para se dedicar a projetos pessoais, organizações coletivas e assim por diante.”
Quanta energia positiva será liberada na medida em que as mulheres – principalmente as negras – estejam mais seguras, mais livres do trabalho não remunerado, para poderem gozar de tempo de lazer, de prazer e convívio!
Quantas praças a ocupar!
Aquelas, centrais, estão habitadas apenas pela população desterritorializada, em sua maioria, negra.
Mas nem todos têm abandonado a convivialidade dos centros urbanos.
Um belo exemplo: em Curitiba, tão cantada em prosa e verso por seu sistema de transporte, existe uma das maiores populações em situação de rua, do país.
Uma das poucas iniciativas que a reconhece e atende – a exemplo do padre Júlio Lancellotti em São Paulo – é a do deputado estadual Renato Freitas, que acolhe e alimenta moradores e moradoras de rua, na capital curitibana.
Outra iniciativa louvável é a do restaurante Tijolo, na rua São Francisco, 179.
Em pleno centro degradado da cidade de Curitiba, o Tijolo é um oásis de bom gosto, deliciosa comida e ótimas escolhas musicais.
Fica em um beco tão charmoso quanto os mais pitorescos de Roma, apresentando culinária do Paraná, que alia a tradição árabe, sempre presente no estado, com a contemporaneidade vegetariana.
O serviço é impecável, além de caloroso, simpático e aberto a conversar com quem vai só.
Um exemplo a ser seguido por administradores públicos e privados, de como revitalizar áreas dos decadentes centros urbanos nacionais e não apenas.
A dica vai principalmente para o desgovernador de São Paulo, cuja ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – o “marido” da “Marquesa de Santos”…) matou 5 vezes mais do que em 2022. Um recorde macabro, ainda mais para um desgovernador que integrara os Capacetes Azuis da ONU, na “Operação de Paz”, no Haiti.
Por fim, nestas férias, se puderem, evitem as caóticas estradas do interior de Santa Catarina. De dia, as obras abandonadas/inacabadas são um perigo enorme: a sinalização é praticamente inexistente e o motorista, mesmo com ajuda do GPS, tem de fazer escolhas quase intuitivas, em velocidade. À noite, a experiência pode beirar o suicídio.
Se é assim para nós, brasileiros, imaginem como se sentirão os estrangeiros, principalmente argentinos e paraguaios, que insistem em prestigiar o litoral do estado, apesar desses percalços, quase mortais.
Entretanto, o estado continua acolhedor, a despeito dos desmandos da extrema-direita, tão presente no Sul e no Sudeste… mas esperemos que somente até as próximas eleições!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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