

Opinião
Garrafa cheia
Com investimento de 1 bilhão de reais, a Ambev inaugura sua fábrica de embalagens de vidro em Carambeí, no interior do Paraná
A Ambev inaugurou, na segunda-feira 15, sua segunda fábrica de garrafas de vidro em Carambeí, no Paraná – a primeira está instalada no Rio de Janeiro. Com um aporte de 1 bilhão de reais, a planta industrial tem capacidade para produzir até 600 milhões de cascos por ano.
O projeto deve gerar cerca de 400 empregos diretos na operação permanente, além de fortalecer a cadeia produtiva na região. A cidade, que tem perto de 24 mil habitantes, deve encontrar uma vertical de crescimento importante para os próximos anos, especialmente quanto aos serviços locais. As garrafas produzidas abastecerão São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Pernambuco e Ceará, onde a Ambev tem cervejarias.
A nova fábrica de garrafas reforça o objetivo estratégico da empresa de fortalecer suas marcas com maior valor agregado, na embalagem que é mais bem percebida como nobre pelos consumidores. A oportunidade é gerir a cadeia produtiva, otimizar os custos e garantir margens melhores nas marcas que suportam maiores variações de preços.
A unidade de Carambeí também adotou práticas sustentáveis e opera com 100% de energia elétrica renovável. Além das garrafas de vidro, a empresa possui fábricas de latas em Minas Gerais, rótulos em São Paulo, tampas de alumínio no Amazonas e duas maltarias no Rio Grande do Sul.
Um brasileiro no comando da Coca-Cola
Henrique Braun, brasileiro com longa trajetória na companhia, assume a presidência mundial da Coca-Cola em março de 2026. Em quase três décadas na empresa, ele passou por operações, marketing, inovação, cadeia de suprimentos e gestão de engarrafadores, além de ter atuado como diretor de operações (COO), responsável por todos os mercados globais.
Braun já afirmou que sua prioridade será “desbloquear oportunidades de crescimento” em parceria com os engarrafadores, usando tecnologia para ganhar eficiência e manter o “impulso” recente do sistema Coca-Cola.
Vendaval de prejuízos
Chuvas fortes e ventanias históricas nas primeiras semanas de dezembro deixaram São Paulo às escuras e expuseram a fragilidade da infraestrutura elétrica. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo, o apagão provocou perdas de pelo menos 1,54 bilhão de reais em faturamento para o setor na capital paulista em apenas dois dias, com 2,2 milhões de imóveis afetados no pico da crise e milhares de edificações que permaneceram sem energia muitos dias depois.
O impacto foi mais duro nos serviços, que deixaram de faturar pouco mais de 1 bilhão de reais, enquanto o comércio varejista perdeu ao redor de 511 milhões de reais. Isso sem considerar estoques perdidos, custos fixos mantidos e gasto extra com geradores, combustível e mão de obra.
O setor está preocupado com as emergências climáticas e a ameaça de que esta situação seja o novo normal. A alternativa encontrada para não perder a sazonalidade é reforçar as promoções e não ficar sem negócios. Os prejuízos com as chuvas já levaram parte do lucro para o ralo.
Chuva de dinheiro
Apesar do clima instável, as vendas de fim de ano de 2025 devem somar em torno de 72,7 bilhões de reais no varejo, alta de 2% sobre 2024, segundo projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o que pode fazer deste o melhor Natal em dez anos. Outras entidades, como a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o SPC Brasil, falam em algo próximo de 84,9 bilhões de reais, quando se considera um conjunto mais amplo de atividades, incluindo serviços.
A leitura comum é que o 13º salário, a inflação mais baixa e as promoções prolongadas desde a Black Friday ajudam a destravar parte da demanda reprimida, apesar do crédito caro e do endividamento elevado das famílias.
Nos shoppings, a expectativa é de faturamento em torno de 6,2 bilhões de reais, com crescimento de um dígito em relação ao ano passado e forte concentração de movimento no último fim de semana antes do Natal. A maior parte dos centros de compras já opera com horário estendido, abrindo mais cedo e fechando até as 23 horas em vários dias da semana.
Na Rua 25 de Março, principal polo de comércio popular de São Paulo, lojistas projetam crescimento próximo de 8% nas vendas, embalados pelo fluxo combinado de atacado e varejo e pela busca de presentes mais baratos. Muitos lojistas decidiram abrir aos domingos e no período noturno para capturar a onda final de compras. Isso tudo, claro, se não chover. •
Publicado na edição n° 1393 de CartaCapital, em 24 de dezembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Garrafa cheia’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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