Frente Ampla

Urgências brasileiras e COP-26

Um dos maiores retrocessos representados pela presidência de Jair Bolsonaro se dá justamente na temática do meio-ambiente

Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
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A COP-26, iniciada no último dia 31 em Glasgow, na Escócia, talvez seja a última oportunidade para a humanidade estabilizar o aumento do aquecimento global em 1,5ºC. A meta, estipulada no Acordo de Paris, é fundamental para garantir condições de sobrevivência às gerações futuras, que herdarão um planeta com um clima radicalmente diferente daquele de duzentos anos atrás. Pontuado de objetivos ousados, o acordo ainda não foi retificado, não estando, dessa forma, plenamente operacional, o que dificulta o alcance e a manutenção das metas climáticas.

Mais uma vez, os entraves nas negociações giram em torno do Artigo 6º do Acordo de Paris, que regulamenta o mercado de carbono, assegurando a contabilidade dos créditos de cada nação pelos cortes na emissão de gases que provocam o efeito estufa. O Brasil é personagem central na negociação e, após a postura reacionária nas duas últimas edições da conferência, promete uma conduta mais proativa nessa COP-26. Mas não apenas nesse tema.

Nosso País é um dos maiores emissores de gás carbônico e outros poluentes na atmosfera e o vertiginoso aumento do desmatamento e queimadas no governo Bolsonaro piorou a situação. Para esta COP-26, mesmo sem o envio de uma delegação oficial, o governo federal prometeu – em vídeos protagonizados pelo ministro do meio ambiente e do próprio presidente – a redução dos gases de efeito estuda até 2030. Algo a ser comemorado, embora difícil de acreditar.

Um dos maiores retrocessos representados pela presidência de Jair Bolsonaro se dá justamente na temática do meio-ambiente. Logo nos primeiros dias de seu governo ficou evidente qual seria a linha política a ser adotada para a área: esvaziamento das funções dos órgãos ambientais, revisão de planos de conservação e manejo, alteração na demarcação das reservas naturais e terras indígenas bem como mudanças regulatórias com vistas a facilitar a exploração a qualquer custo dos recursos naturais. Em outras palavras, aproveitar para “passar a boiada”.

Nos últimos dois anos, o Brasil apresentou piora em todos os indicadores ambientais. O desmatamento da floresta amazônica, por exemplo, é o maior em doze anos. Desde 2008 não se via tamanha devastação na Amazônia e os prognósticos apontam que a exploração predatória da região, principalmente a extração ilegal de madeiras e minérios, siga avançando frente a praticamente inexistência de fiscalização na área. Embora o discurso apresentado na COP-26 seja otimista, a postura do governo brasileiro mostra que o País caminha na direção contrária.

A questão se torna mais delicada ao lembrarmos do papel crucial desempenhado pela floresta amazônica na regulação mundial do clima. Patrimônio brasileiro, a Amazônia garante a existência da humanidade com sua altíssima capacidade de absorção do carbono presente na atmosfera, sendo fundamental para a oxigenação do planeta.

Líderes presentes à COP-26 afirmaram ser mais importante as ações do governo brasileiro para o meio-ambiente do que promessas ou discursos de autoridades. O mundo olha com apreensão e expectativa para o Brasil e a ausência do Jair Bolsonaro à conferência foi vista como um dificultador para mudanças urgentes que precisam ser implementadas em nossa política ambiental, além de isolar ainda mais o país no cenário internacional.

Existe grande expectativa para os resultados desta COP-26 até pela presença de Joe Biden, presidente norte-americano. Seu antecessor, Donald Trump, além de boicotar a conferência, é um loquaz negacionista das mudanças climáticas. Biden, ao contrário, esteve presente e proferiu um discurso agregador e repleto de possibilidades para o estabelecimento de uma economia verde em um mundo pós-pandemia. Resta ao Brasil aproveitar.

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