Frente Ampla

Um governo para não esquecer

Diz o lema da luta contra a ditadura: não devemos esquecer, para que nunca mais aconteça

O ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Foto: Alan Santos/PR
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Não faltam motivos para querer esquecer esses 4 anos de um governo que foi omisso e criminoso no que importava e atuante no que beneficiava poucos. É tentadora a oportunidade de deixar para trás tantas tragédias e focar no novo governo que já renovou seu compromisso com a inversão da lógica de um orçamento orientado por barganhas e não para combater as desigualdades e promover um projeto nacional de desenvolvimento.

Mas, diz o lema da luta contra a ditadura que não devemos esquecer, para que nunca mais aconteça. E é neste ponto que concentro este último artigo de 2022.

Não podemos esquecer os quase 700 mil mortos por Covid e o drama para seus familiares e amigos. Não devemos esquecer que o Ministério da Saúde e o da Educação viraram balcão de negócios e negaram políticas essenciais para salvar vidas e garantir ensino de qualidade.

Propina em pneus, vantagens para negociar a compra de vacinas que deixaram no vácuo um contrato importante com a Pfizer que garantiria a imunização mais cedo das brasileiras e brasileiros e proteção contra a Covid. Vimos profissionais de saúde perderem a vida, familiares com dor infinda, sem qualquer sinal de solidariedade ou compaixão.

A insistência numa política de armar a população em detrimento da execução de uma política de segurança que não se baseasse na falsa proteção individual, contrariamente aumentando os crimes nas ruas, nos lares aumentando o número de feminicídios. A autorização para matar aumentou o número de mortos nas operações policiais.

Desrespeito aos povos indígenas, ao meio ambiente, à alimentação saudável foram outras marcas deste desgoverno, além das denúncias de proteção e cumplicidade aos crimes de garimpo e mineração ilegais.

Negou a existência da fome, que seu governo causou, e fez do Brasil o único país a voltar ao mapa da fome, depois de ter saído dele.

A destruição da politica cultural que só não foi completamente devastada pela resistência do setor e do Parlamento que aprovou e derrubou os vetos de leis fundamentais, tanto na emergência sanitária – como A Lei Aldir Blanc 1, que relatei – como as Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, esta última que tive a honra de ser autora.

Nenhuma área foi contemplada ou pensada para atender a população. O foco foi, primeiro interesses de grupos poderosos e financeiros e depois a meta de reeleição. Neste sentido a questão do auxílio emergencial foi emblemática. O governo pretendia oferecer míseros R$ 200,00 e foi o trabalho da oposição que garantiu tanto os R$ 600,00 como o valor dobrado para as mulheres chefes de família.

Numa tentativa desesperada de ganhar votos, apresentou e aprovou uma PEC para manter o auxílio até 31/12/2022. Não sinalizava, no entanto, a permanência como uma política que garantisse a dignidade e o sustento dos milhões de famílias em situação de extrema pobreza.

Rebaixou o papel da ciência, agrediu cientistas, levou ao desespero as escolas, institutos federais e universidades, os professores e professoras, funcionários, alunos e bolsistas de pós-graduação.

O desrespeito às instituições da República, a intromissão em outros poderes e a desqualificação ofensiva e inaceitável de seus membros. Sem esquecer o aparelhamento dos órgãos de fiscalização para coibir investigações e as tentativas sucessivas de ruptura da democracia.

Ficamos isolados do mundo, envergonhados e, muitos do nosso povo, atemorizados com a instauração de um regime autoritário e fascista no Brasil. O tempo histórico no governo foi curto. Mas ainda há muito a fazer na guerra cultural que se estabeleceu pelo país, sustentado pela comunicação tecnológica contemporânea.

Não podemos esquecer. Olharemos para o futuro com esperança e com as mangas arregaçadas para reconstruir o Brasil. Mas não deixaremos de lembrar o que 4 anos de uma política genocida e de costas para o povo deixou de herança.

Pelas vítimas da Covid, pelos desassistidos, pelos que perderam seus empregos e foram submetidos a condições desumanas. Pelos que engrossaram as filas dos serviços de saúde e por uma geração que não teve as mesmas oportunidades para estudar de forma remota durante a pandemia. Pelos que sonhavam com o diploma universitário e viram as portas de acesso fechadas. Por todos e todas que foram alvos de preconceito, violência e ódio.

Vamos trabalhar por um futuro melhor. E ele será. Mas, não esqueçamos nunca como essa praga chegou ao poder e de que maneira fez o Brasil se apequenar diante do mundo. Nossa memória e nossa luta são armas potentes para que nunca mais aconteça!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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