Frente Ampla

Melhorar a vidas das pessoas é a forma de unir e reconstruir o país

Melhorar concretamente a vida das pessoas é o melhor antídoto contra o bolsonarismo e o caminho para a união e reconstrução do País

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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É positivo o balanço do primeiro semestre do governo Lula-Alckmin, principalmente consideradas as condições políticas e econômicas do país. Vencemos, por estreitíssima margem, o processo eleitoral mais acirrado da história, no qual medos e ódios foram manipulados para criar divisões artificiais em nosso povo. Desde a República Velha, jamais se tinha visto tamanho despudor no uso da máquina pública em uma campanha. Resultado: encontramos a nação politicamente cindida e economicamente em frangalhos.

Não é demais lembrar que Lula enfrentou e derrotou uma tentativa real e concreta do golpe de Estado em sua primeira semana no Planalto. A rigor, o governo se viu obrigado a começar antes mesmo da posse, em virtude do irresponsável abandono de posto pelos derrotados.

A PEC da Transição possibilitou que o país não dissolvesse na passagem de comando, mas teve alto custo político para quem ainda nem tinha a cadeira para se sentar. Cito tais condicionantes não para despertar conformismo em face aos limites, mas sim para lembrar o cenário pré-apocalíptico em que a nova gestão assumiu.

Governo de reconstrução nacional, Lula acertou em cheio ao priorizar a retomada de políticas públicas de sucesso e essenciais para a população, mas que haviam sido desmontadas nos quatro anos anteriores. Nesse sentido, o relançamento do Bolsa Família, agora turbinado, a volta do aumento real ao salário-mínimo, o Novo Mais Médicos, o resgate do Farmácia Popular e do Minha Casa Minha Vida, entre outros, não são saudosismos ou mais do mesmo, mas sim a materialização do compromisso do presidente com o povo brasileiro, especialmente a parcela mais pobre dele.

Outro ponto positivo é a volta da normalidade política e institucional no país, seja no plano interno – entre o Executivo federal e os demais poderes da República e outros entes federados – ou externo, com a volta do Brasil a lugar de destaque no concerto das nações. Não havendo mais riscos ou ameaças de ruptura, temos de novo racionalidade e previsibilidade, o que é essencial para atração de investimentos e melhoria no ambiente de negócios.

Para quem viveu as trevas do bolsonarismo, é valioso saber que não há risco de nosso presidente acordar disposto a humilhar a primeira-dama de outro país, nem de que seu filho vá agredir nosso principal parceiro comercial por mero preconceito. Mas não é apenas a volta da civilidade que está em jogo, é principalmente ver o país respeitado, negociar de forma altiva, buscar novos mercados comerciais e parcerias estratégicas, enfim, cuidar dos interesses reais de uma nação.

Nesses primeiros meses, é fato, o governo enfrentou muitas dificuldades políticas para organizar uma base de sustentação efetiva no Congresso, marcadamente na Câmara. Os motivos são múltiplos, vão desde o perfil reacionário de parte dos eleitos até a insistência em métodos antigos e hoje menos eficazes para composição de maioria.

Algumas derrotas pontuais foram colhidas e serviram de alerta – o que, aliás, parece que vai sendo compreendido aos poucos. Tanto é que o governo terminou o semestre vendo aprovadas matérias prioritárias de sua agenda econômica, como o voto de qualidade no CARF, o arcabouço fiscal – que tenho dúvidas quanto à precisão – e até mesmo a reforma tributária, que há mais de 30 anos vagava pelos escaninhos do Congresso.

Em paralelo a esses movimentos, a economia começa a dar sinais de alento. O PIB cresceu 1,9% no 1º trimestre do ano, bem acima das expectativas de mercado, muito beneficiado pela expansão do setor de agropecuária. Já se projeta crescimento de superior a 2,3% para 2023, o que se reflete em menores índices de desemprego, que recuou a 8,3% em maio.

A inflação vem em queda constante e, segundo o IPCA de junho, chegou a registrar deflação de 0,08%, puxada por quedas nos grupos de alimentação e bebidas. No acumulado dos últimos 12 meses, o índice é de apenas 3,16%, o que torna injustificáveis as taxas de juros do Banco Central. Aqui, mais uma vez Lula compra a briga certa: tem mesmo que pressionar pela imediata queda dos juros para possibilitar maior fôlego para a retomada econômica.

Ainda falta clareza e direção, a meu ver, na construção de um plano mais estratégico para a reindustrialização do país. Se subestimarmos esse desafio, cometeremos um erro que custará novas décadas perdidas. Não podemos condenar para sempre nosso povo aos baixos salários do setor de serviços ou nosso país à eterna condição de mero exportador de commodities.

Parece-me evidente que o governo precisa estruturar projetos com começo, meio e fim para que o Brasil ao menos entre no jogo do que se debate no mundo: indústria 4.0, inteligência artificial, internet das coisas, a economia do conhecimento. É necessário rumo, decisão política, investimentos públicos e privados e método para alcançar resultados concretos. É preciso ter ambição de futuro!

Mas, visto de conjunto, é de se comemorar o primeiro semestre do governo Lula-3, que prefiro chamar de Lula-Alckmin para não perder o conteúdo de frente ampla que nos garantiu a vitória. Melhorar concretamente a vida das pessoas é o melhor antídoto contra o bolsonarismo e o caminho para a união e reconstrução do país.

Por fim, nunca devemos esquecer uma importante lição política do ciclo 2003-2016: mobilizar o povo para que ele seja o dínamo de um projeto mais avançado. A pressão conservadora é permanente e persistente, assim deve ser a luta popular e o diálogo do nosso governo com os movimentos sociais e a sociedade civil. É preciso ter ideias e energia para transformá-las em realidade.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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