Frente Ampla

É preciso dar nome aos bois

Há comandantes e comandados neste ato terrorista. Nem um nem outro podem ficar impunes

Nomes de participantes de ato golpista foram parar nos jornais. Foto: Nelson Almeida/AFP
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Escrevo ainda sob o impacto das imagens revoltantes de domingo. Com toda a minha indignação ao ver a depredação de nossa memória histórica e cultural. Do meu assombro ao constatar a facilidade com que criminosos invadiram as sedes dos Três Poderes da República, num claro atentado contra o Estado Democrático de Direito.

Talvez não fosse o melhor momento para expressar em palavras o que vi ao, no dia seguinte, percorrer os salões e corredores do Congresso Nacional. Mas é preciso dar nome aos bois.

A primeira palavra vem para registrar a omissão dolosa dos que deveriam proteger as instituições. As apurações indicarão responsabilidades e devem ser rigorosas na punição. Concentro-me, já que não me cabe o papel de juíza, no cerne da questão que nos levou a um dia 8 de janeiro lamentável em todos os sentidos. O veneno administrado ao longo de 4 anos e que culminou com o ataque de uma horda financiada e ávida por aniquilar nossa democracia. Esse veneno teve como ingredientes o incentivo constante ao armamento da população, a propagação de mentiras e um discurso ideológico de ódio e aniquilamento dos diferentes, dirigido a quem pudesse ameaçar um projeto de poder.

Há comandantes e comandados neste ato terrorista. E nem um nem outro podem ficar impunes. Agora, falam de “bolsonaristas radicais” e, com razão as redes apontam que se trata de um pleonasmo vicioso. Não existe um bolsonarismo não radical. Quem compactuou com a desinformação, o negacionismo e aderiu ao movimento ilegítimo contra o resultado das urnas não o fez por ingenuidade ou ignorância, mas com consciência. Mas, aqui cabe uma ressalva importante. Não podemos confundir bolsonaristas com todos os eleitores de Bolsonaro.

Votar em Bolsonaro não faz de todos fascistas ou terroristas. Seus eleitores exerceram o direito constitucional ao voto. E estou certa, que a ampla maioria deles, também condena as ações criminosas do domingo.

Apesar de discordar deste voto dado em Jair Bolsonaro depois de anos em que ficou clara sua incompetência, falta de empatia, e desastre nas politicas econômicas e sociais, crimes cometidos contra a vida e da enorme irresponsabilidade de quem ocupa o cargo de Chefe de Estado, não posso colocar no mesmo balaio os que depositaram um voto diferente do meu e os que não aceitaram a derrota no pleito e optaram por desrespeitar as leis para invalidar o resultado indesejado.

Fato é que acampamentos foram montados após o 2º turno das eleições. Foram incentivados e largamente financiados. Quem estava ali sabia que estava incorrendo em crime. A mobilização não escondia de ninguém a pauta defendida. Bradavam a prisão de ministros da Suprema Corte! Desejavam impedir a posse de um presidente eleito pela maioria dos votos! Pediam intervenção militar! Uma pauta criminosa, portanto. Uma pauta unificada entre os bolsonaristas. Todos radicais, pois não há outro tipo de bolsonarista.

O golpe falhou. A democracia venceu. A investigação será rigorosa para responsabilizar, civil e criminalmente, todos os envolvidos. Os que, por ação ou omissão, deixaram de cumprir com suas responsabilidades, os que financiaram a mobilização, os que divulgaram apoio aos atos terroristas, os que, de fora do país, incentivaram o descumprimento das leis, sejam eles agentes públicos ou não. Ficarão como exemplo de que o Estado brasileiro não coaduna com ilegalidades. De que, finalmente, há um governo, há leis, há parlamento, há justiça na democracia que se orienta pela Constituição Federal e pelo bem estar dos brasileiros e brasileiras.

O Brasil mudou. A frente que elegeu Lula, agora se amplia em defesa da democracia e das instituições. Bolsonaro e seus seguidores se isolam cada vez mais. Muito mais. E mesmo que alguns setores achem que podem impedir, pela violência, essa mudança, ela já é uma realidade. Uma realidade SEM ANISTIA! DITADURA NUNCA MAIS! DEMOCRACIA SEMPRE!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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