Frente Ampla

Como desenvolver o Brasil

É preciso um choque de inteligência como premissa de um amplo, amplíssimo diálogo de todos com todos, menos os fascistas

Foto: José Cruz/Agência Brasil 'Temos uma liderança, Ciro Gomes, que já desponta nas pesquisas presidenciais como um dos adversários mais competitivos do atual presidente'. Foto: José Cruz/Agência Brasil
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Três são as premissas que explicam o êxito civilizatório na história humana, pouco importam as retóricas, a Babel institucional, as circunstâncias nacionais mais ou menos trágicas ou o tempo percorrido entre atraso e progresso: 1. Alto nível de poupança doméstica (o capital que sustenta o desenvolvimento é o que se faz em casa, nunca o capital estrangeiro). 2. Profunda coordenação entre Estados Nacionais fortes, empreendedores privados e comunidade acadêmica, dividindo tarefas planejadas e aceitas pela sociedade. 3. Forte investimento em gente (educação, educação, educação, educação, ciência, tecnologia, cultura, saúde).

O Brasil vai muito mal das pernas nas três premissas. Na verdade, estamos retrocedendo em virtude da velocidade frenética e da complexidade única impostas pelas novas práticas produtivas de vanguarda, que estão nos deixando perigosamente para trás.

Zoada, insultos, afetos febris ou ódios alucinados não estão, senão, agravando tudo e comprometendo o nosso futuro enquanto nação soberana. É preciso um choque de inteligência como premissa de um amplo, amplíssimo diálogo de todos com todos, menos os fascistas e os inimigos da democracia, para acharmos a saída. Ela nem de longe passa pelo atraso do culto à personalidade que herdamos de uma cultura do velho centralismo democrático, tropicalizada ao nível do patético pela pior tradição sul-americana e caribenha.

É preciso um choque de inteligência como premissa de um amplo, amplíssimo diálogo de todos com todos, menos os fascistas

O progresso humano é obra coletiva e fruto de ideias, jamais foi dádiva de indivíduos. Nunca foi uma consequência fatalista do acaso, muito menos harmonicamente distribuído entre as nações, o que mantém moderníssima a centralidade da questão nacional. Um plano, um projeto, com metas, prazos, orçamento, indicação de fontes de recursos e dos óbvios conflitos políticos para praticá-los tem de estar no começo dos objetivos do debate. Neste sofrido país, ninguém sabe para onde estamos indo, ou querendo ir, nem qual lugar desejamos na agressiva nova ordem internacional marcada por disrupturas tecnológicas que estão matando o trabalho tal como nos acostumamos a conhecê-lo desde a Revolução Industrial. Pior, por estes tempos e por aqui, há sempre um pior, nem sequer sabemos onde estamos hoje neste contexto. Nem o Censo Demográfico temos garantido.

Exige fôlego este debate. Exige método esta discussão. Exige grandeza esta luta. Precisamos entender que estamos proibidos de crescer pela simultaneidade de três agudos fatores conjunturais, um fator de médio prazo e alguns fatores de longo prazo. No longo prazo, todos estaremos mortos, já se disse. Mas, com os níveis decadentes de produtividade de nossa atual economia e da baixíssima qualificação de nosso capital humano, nunca haverá desenvolvimento que se sustente entre nós.

No curto prazo, cuidemos de entender por onde deveríamos começar a virada do atraso para o progresso, da estagnação para o crescimento econômico, condição sem a qual qualquer promessa de distribuição de renda será grosseira mentira, embora mentira que tem revelado enorme força entre o nosso sofrido povo. Sem crescer, distribuir renda só aconteceu em pouquíssimos casos na história e na esteira de rupturas violentas. De mais violência é tudo o que nosso povo não precisa. Então…

No Brasil, 60% da energia que responde por ciclos de crescimento vem do consumo das famílias. Este é o primeiro motor pifado que explica a nossa crise: o consumo das famílias está completamente deprimido pelo desemprego recorde, pela informalidade recorde que reduz a renda e pelo crédito estrangulado. Emprego e renda vêm depois que a economia cresce. A única variável alcançável por uma política pública é a inadiável restauração do crédito das famílias. Ou alguém acha que um sistema financeiro cartelizado, como se cartelizou no Brasil durante governos de retórica progressista o nosso sistema bancário, vai ajudar a tirar da escravidão mais de 62 milhões de brasileiros humilhados no SPC, entre os quais centenas de milhares de jovens inadimplentes do Fies?

A propaganda enganosa cuida de tentar desmoralizar uma solução que praticamos aqui no Ceará todo mês há anos, ajudando a obter descontos de até 90% das contas infladas por abusos cometidos contra o nosso indefeso povo. Se retirarmos os bancos públicos do cartel no qual se encontram, é possível reestruturar as dívidas de todas as famílias, apoiando-as na obtenção de enormes descontos e financiando o saldo devedor em prazos e custos civilizados.

Bolsonaro deu a carteira de ativos por receber do Banco do Brasil de valor superior a 3 bilhões de reais ao BTG (este G aí é de Guedes, um de seus fundadores) por pouco mais de 300 milhões de reais. Para os ricos devedores já fizeram. Seguiremos, neste convite ao debate, explicando o colapso do investimento privado e o colapso do investimento público (os dois outros fatores emergenciais) e o desequilíbrio estrutural nas contas externas como fator de médio prazo a ser resolvido.

Publicado na edição nº 1158 de CartaCapital, em 23 de maio de 2021.

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