Frente Ampla

Bolsonaro inelegível, uma oportunidade para a democracia

O que nos cabe é aproveitar o momento e colocar uma cunha que separe o centro e a centro-direita da extrema-direita, que representa o maior risco à nação

O ex-presidente Jair Bolsoanro em 29 de junho de 2023. Foto: Sergio Lima/AFP
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A cassação dos direitos políticos de Jair Bolsonaro não tem o condão de acabar com o bolsonarismo de imediato. O caldo de incultura, violência e ódio que ajudaram a tornar possível a ascensão de figura tão deplorável ao cume do poder político é um dado da realidade atual, aqui e alhures. O combate à extrema-direita será tarefa dura e de mais longo prazo.

Contudo, afirmar que Bolsonaro se tornará “o maior eleitor do país” não tem nenhuma base concreta, é mero recurso de retórica para não dispersar o exército em debandada após a derrota. A verdade é que a extrema-direita sofreu um revés estratégico, perdendo sua principal liderança e deixando de ter algo vital na política, a expectativa de poder.

Muitos analistas afoitos querem elencar os possíveis sucessores de Bolsonaro. Alguns, mais ousados, arriscam-se até a afunilar para dois nomes: Michelle ou Tarcísio. Calma. Entendo a pressa da manchete, mas política tem tempo próprio e uma vida inteira se passa no breve período que separa as eleições.

No momento, mais do que respostas, algumas perguntas se impõem. O bolsonarismo tem base real na sociedade, mas permanecerá um bloco monolítico sem Bolsonaro? Quem for preterido como herdeiro aceitará ou abrirá dissidência? Quem for escolhido terá a capacidade de aglutinação da tropa? Quem se elegeu na onda reacionária aceitará a nova chefia? E, ainda, os menos radicais vão se manter fiéis ou, mais provável, vão seguir a vida depois de chorar no velório?

Alguns dizem que, livre da rejeição de Bolsonaro, o herdeiro será mais competitivo. Tenho dúvidas, é difícil só contabilizar o bônus sem deduzir o ônus, que são inerentes a escolhas políticas. Para herdar o espólio, o escolhido vai ter que rasgar a fantasia e incorporar o personagem de corpo e alma. Do contrário, pode ser “russomanizado”, como ocorreu em São Paulo na eleição municipal de 2020.

De todo modo, à esquerda e aos demais democratas, abriu-se uma senda mais larga, uma oportunidade. Estamos no governo e o inimigo do país sofreu grave derrota. O que nos cabe é aproveitar o momento e colocar uma cunha que separe o centro e a centro-direita da extrema-direita, que representa o maior risco à nação.

Para isso, é preciso acertar em dois pontos fulcrais. Primeiro, azeitar a relação no Congresso – o melhor formato para fazê-lo é o que funciona! -, estabilizar a base, governar e melhorar a vida do nosso povo. Depois, evitar o hegemonismo nas eleições municipais, pois não podemos correr o risco de que as disputas resultem em reagrupamento de forças contra nosso campo.

A frente ampla que se formou no processo eleitoral do ano passado foi a força motriz que permitiu derrotar Bolsonaro, o único incumbente a não conquistar a reeleição. No governo, sua manutenção é ainda mais necessária para reconstruir o país e derrotar definitivamente o bolsonarismo.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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