Frente Ampla

A frente ampla, que atropelou o bolsonarismo no Rio, se afirma como tática correta

Tanto em Niterói quanto em São Paulo, a solução tem que ser a mesma: os defensores da democracia precisam se unir em torno de Rodrigo Neves e Guilherme Boulos

A frente ampla, que atropelou o bolsonarismo no Rio, se afirma como tática correta
A frente ampla, que atropelou o bolsonarismo no Rio, se afirma como tática correta
Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados
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Muitas são as teses para analisar o resultado do primeiro turno das eleições municipais. Já era esperada uma vitória majoritária dos partidos de centro e centro-direita, e é preciso reconhecer a ocupação de espaço da ultradireita, como também o crescimento de alguns partidos da esquerda, na recente retomada pós-22. É preciso também observar o impacto das emendas orçamentárias para prefeituras em todo país e a diferença de lógica das eleições municipais, particularmente nas cidades médias e pequenas, cujo resultado nem sempre se relaciona com os embates ideológicos. Em cidades grandes, esta influência é maior  e muitas vezes de caráter nacional.

Neste cenário, valorizar o resultado no Rio é uma exigência. No berço do Bolsonarismo, onde Bolsonaro e sua turma se dedicaram à candidatura de Ramagem, a derrota foi grande. Sequer chegaram ao segundo turno. Somaram-se vários fatores para este resultado: o reconhecimento dos feitos positivos da gestão de Eduardo Paes, a formação de uma Frente Ampla para sua reeleição e a rejeição aos métodos, mentiras e histórico recente do campo bolsonarista representado pela candidatura de Ramagem, onde o golpismo e o ódio são marcas registradas. Paes venceu no primeiro turno com mais de 60% dos votos.

Mesmo com o “mito” Jair Bolsonaro trabalhando diariamente nesta eleição, com aparições diárias na TV, Ramagem não alcançou mais do que 30% dos votos válidos. Mas não devemos subestimar a existência dessa parte da população que ainda segue e acredita no caminho apontado por essas forças de extrema direita, nem sempre movida ideologicamente. Isso importa porque o Rio foi o lugar que deu voz a Jair Bolsonaro, primeiro como vereador, depois como deputado federal (passou 28 anos na Câmara sem fazer nada que valorize a função parlamentar) e, enfim, como o pior presidente que este país já viu.

Em 2022, atuamos em frente ampla no Rio apoiando nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com importante atuação de Eduardo Paes no segundo turno das eleições, reforçando a recuperação da democracia, do diálogo, do respeito às diferenças e do desenvolvimento humano e econômico do país e das cidades. Foi o que aconteceu novamente na capital fluminense nestas eleições. Esta frente se agrupou em torno de um projeto acima das das diferenças ideológicas, que foi acolhido com alegria pela população. Nesta frente coube a participação da Federação Brasil da Esperança (PCdoB, PT e PV) e partidos como PSB, PDT, Podemos, Solidariedade, entre outros, com Eduardo Cavaliere, do mesmo PSD de Paes, como vice.

Derrotar o projeto bolsonarista em seu berço era uma obrigação – e tinha que ser no primeiro turno, para sinalizar para todo o Brasil nossa exaustão com este modelo antipolítico, que se alimenta de mentiras e ódio e divide o país. No fim das contas, as cariocas e os cariocas votaram e apontaram a necessidade de avançar. Todos concordamos em tudo ou no mesmo projeto de cidade? Claro que não! Mas é no diálogo político, com os movimentos sociais e lideranças, num ambiente democrático, acessível e de vontade política, que podemos propor e realizar alterações que possam responder às novas e antigas demandas da cidade. E ainda há muito o que debater, certamente.

Além de partidos políticos de campos divergentes, tivemos apoio de lideranças evangélicas e católicas, de terreiros de candomblé e sinagogas, de escolas de samba e times de futebol. Esse “sincretismo eleitoral”, que colocou a democracia e as possibilidades de avanço acima das diferenças ideológicas, conseguiu se conectar aos eleitores. Foi uma vitória do campo democrático. O exemplo maior é que Paes dedicou sua vitória ao presidente Lula. E foi uma derrota e tanto para Jair Bolsonaro, um fracasso que o enfraquece politicamente e o aproxima do justo dia em que será preso.

Não queremos ver o Brasil novamente entregue aos interesses nada republicanos do bolsonarismo e suas mutações em 2026. Devemos, então, buscar fazer construções como a que permitiram a reeleição de Paes no Rio. Explorar a fragmentação da direita, que saiu das eleições em maior número, mas sem uma força hegemônica consolidada, com alguns campos em franca colisão, e avançar sobre ela. Para evitar distorções e impactos sobre a democracia é preciso também regulamentar as redes sociais. As plataformas de big techs lucram muito com as fake news e discursos de ódio que servem à extrema direita, e já deixaram claro que vão fazer muito pouco ou nada para contê-los; ao contrário, são seus aliados na usurpação e distorção de bandeiras como “liberdade de expressão” e “liberdade de imprensa”.

De imediato, precisamos apoiar os candidatos do campo progressista no segundo turno. Em Niterói, o pedetista Rodrigo Neves precisa derrotar o bolsonarista Carlos Jordy. Em São Paulo, a missão de Guilherme Boulos, do PSOL, é contra o bolsonarista-em-pele-de-cordeiro Ricardo Nunes, mais um que tenta enganar a população com retórica vazia e uso descarado da máquina pública. Tanto em Niterói quanto em São Paulo, a solução tem que  ser a mesma que a do Rio: os defensores da democracia precisam se unir em torno desses candidatos. A conquista de São Paulo pelas forças democráticas será mais um forte sinal de que o caminho da democracia para 2026 é o da ampla união.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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