Marcos Coimbra

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Sociólogo, é presidente do Instituto Vox Populi e também colunista do Correio Braziliense.

Opinião

Fracassaram os cinco anos de neoliberalismo de Temer e Bolsonaro

3 a cada 4 brasileiros acham que a economia está ruim ou péssima. A ideólogos, resta a tese de que a receita é correta e errado o cozinheiro

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
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Estamos a menos de um ano da próxima eleição e, faz um mês, completaram-se cinco anos da deposição de Dilma Rousseff. Boa hora para discutir o futuro e pensar um pouco no passado. Cinco anos é tempo na história dos países. Talvez não para perceber os resultados de grandes mudanças nas políticas governamentais, que podem demorar a aparecer. Mas suficientes para permitir dizer se um caminho foi bem ou mal escolhido.

Lula venceu a eleição de 2002 e tomou posse em janeiro de 2003. Cinco anos depois, ao chegar a 2008, ele havia sido reeleito e muita coisa acontecera no Brasil. A economia estava bem, o emprego crescia (a taxa de desemprego estava em 8%) e a inflação anual era de 4,5%, consequência de alterações na concepção e execução da política econômica. Uma série de inovações em políticas sociais havia começado, com destaque para o Bolsa Família, tornado lei em 2004 (ampliando o Fome Zero e consolidando iniciativas dispersas do governo Fernando Henrique, como o Auxílio-Gás, o Bolsa-Alimentação e o Bolsa-Escola, criados por alguns de seus ministros querendo melhorar o cacife para a eleição de 2002).

Como decorrência dessas e de outras ações, Lula era um presidente popular: seu trabalho era considerado ótimo ou bom por 58% dos entrevistados pelo Ibope no início de março de 2008, enquanto a desaprovação ficava em 11%. Isso é quase o exato inverso do que obtém hoje o capitão.

Cinco anos é o tempo em que a coalizão golpista que derrubou Dilma está no poder. Para tirá-la, usaram um argumento fajuto, as “pedaladas fiscais”, e um que parecia concreto, o “conjunto da obra”, segundo o qual seria necessário removê-la para liberar a economia das limitações do “modelo petista de governo”. Se ela ficasse, diziam, o País nunca se desenvolveria.

De 2016 para cá, o Brasil tornou-se um caso paradigmático de implantação tardia do neoliberalismo dos anos 1980. A turma que derrotou Dilma e o PT – no Congresso, empresariado, mídia e corporações de Estado (Forças Armadas, Judiciário, Ministério Público, elite do funcionalismo) – correu para criar o “ambiente institucional favorável à modernização”. Hoje, sua obra está completa. Tanto quanto é possível, fora de uma ditadura descarada, como foi, para muitos desses, o saudoso governo de ­Augusto­ ­Pinochet, no Chile.

Passamos cinco anos de reformismo neoliberal acelerado: reforma da Previdência (com perda de direitos e de qualidade de cobertura), teto de gastos (reduzindo despesas sociais), austeridade fiscal, independência do Banco Central, privatizações, reforma administrativa, desinvestimento em áreas “não rentáveis” (como meio ambiente, ciência, tecnologia, cultura, direitos humanos), desestatização. A cada medida, um coro de aplausos na imprensa. Quem acredita em seus editoriais e comentaristas econômicos deve achar que o caminho que Michel Temer e Bolsonaro perseguem há meia década é o único possível e que o Brasil, finalmente, o encontrou.

É tão óbvio, para a vasta maioria do País, não ser verdade que demonstrações são desnecessárias. Três em cada quatro brasileiros acham que a economia está ruim ou péssima. E de qualquer lado que se olhe: menos oportunidades, aumento das desigualdades, piores chances de conseguir empregos, redução do acesso a opções satisfatórias de renda, crescimento pífio. Para esses 75%, os cinco anos de neoliberalismo fracassaram.

Aos ideólogos resta a tese de que a receita é correta e errado o cozinheiro, o que transferiria a responsabilidade às trapalhadas do ministro bolsonarista da economia, mas não é verdade. O economista-mor de Michel Temer, mais competente, não foi melhor. O problema não é o fulano.

Há, também, quem tenha a cara de pau de atribuir à epidemia de Covid-19 a culpa pelo estado de coisas que vivemos. Como se os problemas atuais não fossem os mesmos de antes. Como se o Brasil não fosse um dos países menos capazes de enfrentar a realidade pós-pandemia, pois a única coisa que o governo sabe é repetir chavões.

Ao pensar nos próximos meses e na eleição do ano que vem, é preciso fazer o inverso do que querem os donos de bancos e os capitães da indústria, que acham Lula “atrasado” por não rezar de acordo com o catecismo deles. Mas o petista deixou claro que, em sua opinião, o modelo mambembe de neoliberalismo que a elite brasileira procurou implantar não deu certo e que a política econômica do próximo governo não será norteada por ele.

Publicado na edição nº 1182 de CartaCapital, em 4 de novembro de 2021.

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