O Nordeste tem sido, historicamente, a região com maiores dificuldades econômicas e sociais. Em meados do século XX, enquanto o Sudeste recebia vultosos investimentos públicos e privados para industrialização e modernização de suas estruturas econômicas, capitaneados pelo governo federal, os nordestinos viviam na estagnação e sem perspectivas. No Sertão, cuja economia se restringia à agropecuária, muito limitada pelo clima semiárido, as secas frequentes tornavam a vida ainda mais precária e provocavam o êxodo de parte da população. Na Zona da Mata canavieira, base da economia do Brasil nos séculos XVII e XVIII, os trabalhadores e suas famílias eram expulsos dos engenhos e levados às periferias das cidades próximas. Tornaram-se “boias-frias”, que trabalhavam nos engenhos seis meses por ano, ficando desempregados nos outros seis. Esse quadro de dificuldades e desesperança produziu durante décadas uma enorme migração para o Sudeste, e os nordestinos se tornaram importante mão de obra barata para a construção civil e outros setores da economia.
A atenção do governo federal para o Nordeste começou a mudar durante o mandato de Juscelino Kubitschek. Em 1958, o presidente criou o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, que, capitaneado pelo economista paraibano Celso Furtado, produziu um minucioso relatório intitulado “Uma Política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste”. O documento apresentava um diagnóstico detalhado sobre as raízes da tragédia nordestina e mostrava a necessidade de mudar os complexos socioeconômicos. Estes tinham sido herdados e mantidos por velhas oligarquias, incapazes de liderar um movimento de industrialização, como ocorria no Sudeste, com o firme apoio do governo federal e com a participação de capitais privados nordestinos que para lá migravam.
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