Opinião

Faz o L, de Lira?

Diante da aparente calmaria nas Forças Armadas e do cerco judicial ao bolsonarismo, o País do atraso decidiu se aglutinar em torno do presidente da Câmara

O presidente Lula e os presidentes do Congresso, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Foto: Evaristo Sá/AFP
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O título, confesso, roubei de Gilberto Maringoni, jornalista, ilustrador, professor da Universidade Federal do ABC e, mais importante, colaborador bissexto desta revista. Ou melhor, tomei emprestado, sem prazo de devolução.

Maringoni resume a angústia de muitos eleitores de Lula, principalmente de quem acreditou que os raios de sol iluminariam o País no dia seguinte da derrota de Jair Bolsonaro.

Não deixa de ser um pensamento mágico, inversamente proporcional àquela tese cínica do Brasil da camisa da CBF: “Basta tirar a Dilma”. A batalha decisiva está em curso, entre o L de Lula e o L de Lira.

Diante da aparente calmaria nas Forças Armadas e do cerco judicial ao bolsonarismo, o País do atraso decidiu se aglutinar em torno do presidente da Câmara.

Lira tem ensinado aos generais ineptos e ao ex-presidente boçal como se comanda uma tropa, se tange a boiada ou se controla a claque do cercadinho. A massa de deputados move-se ao som do berrante do alagoano.

Embora Lula tenha decretado o “início do jogo”, após o 7 a 1 da quarta-feira 23, o Palácio do Planalto recorre a táticas antigas. Não existe mais uma equivalência entre cargos no governo e votos no Congresso.

Um lulista recentemente me descreveu um episódio ilustrativo. Durante uma sessão na Câmara, um colega do MDB o procurou com o seguinte recado: “Você que é amigo do presidente, diga a ele. Não queremos ministérios, dá muito trabalho. Queremos emendas”.

Em outras palavras, dinheiro na veia, sem esforço adicional.

Os ingênuos explicam a dicotomia entre um governo progressista e um Congresso reacionário à dinâmica da “democracia”. Os elitistas culpam o “povo que não sabe votar”. Esquecem, por conveniência ou não, das circunstâncias das eleições de 2022.

Bolsonaro levou o Brasil à breca na tentativa frustrada de se reeleger, mas não foi o único beneficiário do maior esquema de compra de votos de que se tem notícia, reforçado agora pela denúncia do uso temerário da Caixa Econômica Federal e do Fundo de Garantia, cujo prejuízo beira os 2 bilhões de reais.

Na ânsia de vencer, o ex-capitão entregou a Lira a chave do cofre, enquanto se divertia em motociatas e torrava em padarias dinheiro público, via cartão corporativo.

Só a inigualável incompetência de Bolsonaro explica a derrota, que ficará para as calendas como o primeiro presidente pós-ditadura a não conseguir se reeleger.

O orçamento secreto deu ao Centrão uma “vantagem competitiva” nas urnas e provocou uma distorção estatística no Congresso: o tamanho das bancadas da Bala, da Bíblia e do Boi e o número de empresários eleitos é desproporcional ao perfil médio do eleitorado.

O Parlamento atual resulta não de uma imaculada “vontade popular”, mas da soma de abuso de poder econômico e do vale-tudo nas redes sociais.

Bolsonaro caminha para o cadafalso. O Tribunal Superior Eleitoral, tudo indica, o impedirá de ser candidato pelos próximos oito anos. Os juízes saciarão a sede de vingança de metade do Brasil sem dar cabo do problema. Melhor que nada, dirão os conformados. Lira e associados gargalham.

A quem se pergunta o que fazer, peço desculpas pela incapacidade de oferecer uma resposta holística. Sair às ruas? Resignar-se aos cânticos do fado? Enfiar a cabeça no travesseiro? Apegar-se à mensagem daquela camiseta: “O Brasil me obriga a beber”?

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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