

Opinião
Expresso e celular
A chinesa Luckin Coffee inicia por Nova York sua expansão internacional


A inovação invade as cafeterias e uma empresa chinesa entra no jogo. A Luckin Coffee, fundada por empreendedores da área de tecnologia, partiu para o ataque e iniciou sua expansão internacional. Abriu duas lojas em Nova York e prescruta o mercado global. A estratégia? Um modelo de negócios no qual os clientes baixam um aplicativo, fazem os pedidos e retiram no balcão. O modelo atrai jovens e no Brasil encontra similar na rede The Coffee, em fase de expansão nos grandes centros urbanos, impulsionada por uma clientela que não sai do celular.
A Luckin Coffee tem uma estratégia agressiva de marketing, com muitos cupons lançados para promover seus produtos. A gameficação levou a cafeteria, em seis anos, a ultrapassar a Starbucks na China. Em 2018, a gigante norte-americana tinha 40% de participação nesse mercado. Agora tem 14%.
A possibilidade de a Luckin desembarcar no Brasil não é nada remota. Em 2023, representantes da empresa visitaram o País para conhecer as plantações e torrefações. No ano seguinte, começaram a fazer pequenas compras e, por fim, fecharam acordo com produtores brasileiros. A estratégia foi conduzida pela Agência de Promoção à Exportação, com o programa Exporta Mais Brasil. A presença do café brasileiro na Luckin promove a experiência e aumenta a possibilidade do consumo doméstico. O acordo fechado prevê que em quatro anos deverão ser importadas 240 mil toneladas, o equivalente a 2,5 bilhões de dólares.
A estratégia pode ganhar mais força agora com a disputa tarifária com os EUA. O mercado chinês alcançou perto de 43 bilhões de dólares em 2024 e o crescimento tem sido de dois dígitos ao ano. Um dado importante: dobrou o número de cafeterias entre 2022 e 2023. Existe uma mudança cultural, com jovens aderindo ao produto.
País do smartphone
O Brasil é o país da cerveja, do futebol e do smartphone. Em 2024, a pesquisa FGVcia, da Fundação Getulio Vargas, avaliou em cerca de 250 milhões de smartphones ativos. Estimativas apontam para um mercado de 12 bilhões de dólares para telefones móveis, com perspectiva de chegar a 20 bilhões em 2030. O número parece correto observando a pesquisa da plataforma Mobile Time e do instituto Opinion Box de junho: 41% dos entrevistados pretendem trocar de smartphone nos próximos 12 meses.
Mas tanto uso tem suas dores de cabeça. Dos entrevistados, 34% tiveram seus celulares furtados ou roubados. E 16% enfrentaram problemas com acesso a contas bancárias. Apesar disso, apenas 21% têm o número cadastrado no programa Celular Seguro, do governo federal, que bloqueia o uso do equipamento nos casos de perda, furto e roubo.
Risco Airbnb
Sabe aquela estratégia de investir em um pequeno estúdio para fazer uma renda extra com aluguéis rápidos, nos moldes do Airbnb? Pode ser um péssimo negócio, ao menos na capital paulista. A prefeitura de São Paulo proibiu a locação no modelo short stay para imóveis enquadrados na classificação de Habitação de Interesse Social e Habitação de Mercado Popular.
A medida segue o exemplo de outros centros urbanos, como Barcelona, que começou a regulamentar as estadias de curta duração. No caso de São Paulo, apontou-se um desvio de finalidade da habitação popular. Não há restrição para comprar ou alugar. O que fica proibido é o modelo de locação, que não beneficia as menores faixas de renda. Um apartamento na modalidade de curta duração chega a render 50% a mais do que o valor tradicional no mês. O problema é que isso encarece os aluguéis e reduz a disponibilidade para quem mora na cidade.
Nos trilhos
A CRRC, empresa chinesa de transporte ferroviário, estuda arrendar parte da unidade da Hyundai Rotem na cidade de Araraquara. O negócio deve significar um investimento de 50 milhões de reais e a empresa deve começar a produzir já em 2026. O Cade precisa aprovar a operação.
A entrada da CRRC no Brasil é mais um capítulo dos investimentos chineses em infraestrutura. Dados do Conselho Empresarial Brasil–China apontam que, nos últimos 14 anos, os investimentos no País chegaram a 370 bilhões de reais. •
Publicado na edição n° 1373 de CartaCapital, em 06 de agosto de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Expresso e celular’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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