

Opinião
Explosões de emoção
As duas partidas das Semifinais da Champions League nos ofereceram tanto aquilo que era esperado quanto a surpresa


Escrevi a primeira parte deste texto antes do resultado do jogo entre Real Madrid e Bayern de Munique, um pouco para testar as máximas “futebol não tem lógica” e “clássico não tem favorito”.
Minha ideia foi inverter a resenha para antes do jogo, pensando nas alternativas que nos instigam como torcedores apaixonados.
A primeira coisa que fiz foi refletir sobre as imagens dos dois treinadores durante os treinos que antecederam o jogão no Santiago Bernabéu, em Madri.
O alemão Thomas Tuchel, ex-zagueiro e técnico do Bayern, me pareceu mais alegre e descontraído.
O italiano Carlo Ancelotti, à frente do maior vencedor da Champions League, voltava a Madri com o ar preocupado de quem, no jogo de ida, tinha empatado por 2 a 2.
O Bayern, de modo inédito, não havia vencido um título sequer nesta temporada que vai chegando ao fim.
Ao ceder o empate em casa, transformou o Real em favorito – a despeito das expressões dos técnicos não serem condizentes com essas previsões.
Esse jogo, na verdade, poderia ser considerado a final antecipada, uma vez que reuniu, mais uma vez, os adversários que, juntos, chegaram perto de ganhar o campeonato do continente europeu.
Apesar de não ter sido um jogo, tecnicamente, com o brilho que se esperava dos times cheios de craques, foi, em termos de emoção, uma grande partida.
Assistir a uma disputa como foi essa deixa a gente quase tão cansado quanto os jogadores.
Sei que estou exagerando, mas vocês me entendem: acompanhamos, de fora do campo, acontecimentos tensos, inesperados e inacreditáveis.
Quando tudo parecia indicar a classificação do Bayern, que ganhava por 1 a 0, contrariando o favoritismo do Real, um jogador de menor destaque dentro de um elenco estrelado, Joselu – que estava até então no banco –, entra e faz a diferença.
Aos 43’ e aos 46’ do segundo tempo, ele fez os dois gols que deram a classificação aos espanhóis e levaram os dois lados – por razões diferentes – a uma explosão de emoção.
Na véspera, na terça-feira 8, o Borussia Dortmund havia garantido uma das vagas na decisão europeia, ao bater o Paris Saint-Germain.
O Borussia volta assim à final da Champions após 11 anos. A última decisão do campeonato disputada pelos aurinegros tinha sido em 2013.
E o PSG perdeu para o time alemão que, em tese, tem como trunfo maior sua ferrenha torcida, apelidada a “Muralha Amarela”, dentro de casa.
Os dados exibidos foram, como sempre, amplamente favoráveis aos donos da casa: posse de bola, escanteios, passes e tudo o mais, aí incluídas quatro bolas na trave. Mas, no fim, os visitantes é que conquistaram um lugar na finalíssima.
E o Borussia chegou a esse lugar por mérito. O que vimos, ao longo do campeonato, foi a consistência firme de sua equipe, que manteve a forma de jogar e o entrosamento admirável até o fim.
Foi um time que errou menos e demonstrou um poder de marcação impressionante – ainda que essa seja uma característica tradicional das equipes alemãs, não deixa de surpreender.
Uma observação interessante a ser feita em relação ao resultado diz respeito ao jogador mais valorizado do PSG: Kylian Mbappé.
O atleta está de malas prontas, uma vez que já havia comunicado que deseja sair do PSG em junho, ao fim da temporada e de seu contrato. Ou seja, sua passagem pelo PSG chega ao fim sem que ele tenha alcançado a desejada taça da Champions.
Agora é aguardar a finalíssima em Wembley, no dia 1º de junho.
Os atletas terão um bom período para recuperação até a decisão do melhor futebol praticado nestes tempos. •
Publicado na edição n° 1310 de CartaCapital, em 15 de maio de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Explosões de emoção’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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