Djeff Amadeus

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É mestre em Direito e Hermenêutica Filosófica (UNESA-RJ), pós-graduado em filosofia (PUC-RJ), Ciências Criminais (Uerj) e Processo Penal (ABDCONST). Advogado eleitoralista e criminalista.

Opinião

Esquerdas erraram ao não se antecipar ao ato de 12 de setembro e devem se corrigir

É hora de deixar de lado desmobilização e assumir a frente de atos para tirar Bolsonaro da Presidência

Manifestação contra Jair Bolsonaro em São Paulo, no dia 19 de junho. Foto: Ricardo Stuckert
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Hans Gadamer diz que são as perguntas que determinam as respostas, ou seja: a pergunta é sempre mais importante do que a resposta. O erro das esquerdas, portanto, deve-se ao seu atraso para puxar os atos logo após o 7 de Setembro. A esquerda, infelizmente, apostou no STF, aguardando (ou seria melhor dizer: esperando) uma sinalização deste para, então, agir. Grande erro!

O MBL, que só consegue encher seus atos pagando pessoas, percebeu que o bolsonarismo faz a mesma coisa e, sendo o ato mais bem financiado, o protesto bolsonarista tinha sido um fracasso. Fracasso, não do ponto de vista do quantitativo em si, mas sim do qualitativo.

Esse é o ponto. Todos os partidos de direita, acostumados a pagar para que as pessoas compareçam aos seus atos, perceberam o fracasso bolsonarista e, por isso, assumiram o protagonismo, enquanto a maioria da esquerda, de maneira totalmente equivocada, adotou um tom de pânico, apostando no STF. Paradoxalmente, enquanto os partidos de direita assumiram um tom de ofensiva ao Bolsonaro, inclusive com chamadas às ruas lideradas pelo MBL, as esquerdas adotaram um tom de paternalismo institucional, rezando para que o STF emitisse alguma nota de repúdio… que foi feita! E aí?

 

O cálculo pragmático da maioria da esquerda, diante do seu afastamento com o povo, tem sido a desmobilização, apostando todas as suas fichas que as instituições resistirão até a vitória de Lula. Foi o que aconteceu quando nós, dos movimentos negros e de favelas, organizamos o primeiro protesto da pandemia, chamado vidas negras importam, ocasião em que queridos companheiros como Luiz Eduardo Soares, Emicida e outros também apostaram na desmobilização, por meio do pânico geral.

O problema desse cálculo é que se faz uma aposta nas instituições e, sobretudo, num STF que já deu provas (concretas) que é um estabilizador das expectativas do mercado, o que possibilita a “tomada de assalto” por partes de oportunistas, tal como ocorreu com cooptação dos protestos de Junho 2013.

Além disso, há outra reflexão – a meu ver, a mais importante – a qual consiste no aumento do distanciamento com a classe trabalhadora. Penso que chegaremos, sem necessidade, numa dependência muito arriscada do nosso Presidente Lula, o que dá sinais de não termos feito uma autocrítica séria no que diz respeito ao diálogo com as bases.

Por questão de responsabilidade para com as nossas e os nossos, deixo claro que, quando conclamo a necessidade de mobilização, não proponho enfrentamentos revolucionários, porque isso não é só ingênuo; é, como dito, irresponsável e insano ante a atual conjuntura. Por isso, penso que a necessidade de mobilização decorre da necessidade de mostrar ao Brasil que o Bolsonaro acabou, o que não significa que tenha deixado de oferecer perigo ou que não vá mais tentar outros golpes.

Então, se é para ser pragmático, que a esquerda entenda que as instituições, por serem acovardadas, precisam de apoio popular, razão pela qual é necessário que abandonemos o tom alarmista e desmobilizador.

A grande burguesia, pela primeira vez, começa a cogitar a possibilidade de impeachment, de modo que apostar na desmobilização pensando em 2022 ainda tem um grande risco: o de que o partido fardado ou a grande burguesia impeçam Lula, por qualquer meio, o que só poderia ser evitado se existir uma mobilização popular que venha de bem antes.

Se é necessário uma frente ampla para derrotar o bolsonarismo, essa frente ampla só é possível se, com ela, subsistir aquilo que Amílcar Cabral dizia ser o princípio primeiro e último de todas as resistências: consciência política. Esta significa não apenas derrotar o Bolsonaro, mas entender por que e para que devemos derrotá-lo.

Sobre o ato do dia 12 de setembro, portanto, defenderei a tese de que as esquerdas devem vir a público, reconhecer o erro da estratégia de desmobilização e assumir o protagonismo da mobilização do dia 12, convocando o MBL para somar (e não o inverso). Numa palavra final: a esquerda erra quando coloca o debate em torno da pergunta se deve ir ou não ao protesto do dia 12, pois a pergunta correta é: quando assumiremos o protagonismo dos atos do dia 12?

Hoje ou amanhã?

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