Economia

Especuladores x população brasileira: qual é a prioridade do governo?

Como de costume, o Governo Federal procura fazer de tudo para esquivar-se de responsabilidades ou esconder a verdade

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O parceiro “A” viciado em jogo torra a maior parte do seu salário no cassino e põe-se a reclamar do parceiro “B”, este cioso de suas responsabilidades domésticas.
A: Você anda gastando muito. O salário não chega no fim do mês.
B: Mas eu só gasto com o essencial: feira, luz, água. O que você quer que eu faça?
A: Vamos combinar o seguinte: eu zero os meus gastos com comida na rua e você zera os seus gastos com a feira.

Esse diálogo insólito é uma alegoria de como o presidente da República trata a grave questão do preço dos combustíveis. Como se tornou costume, o Governo Federal procura culpar terceiros, produzir factoides, sacar falácias, fazer qualquer coisa para esquivar-se de responsabilidades ou esconder a verdade. Recusa-se a falar do problema que deliberadamente criou (e mantém!) para os empreendedores e para a população.

O governo Bolsonaro mantém incólume a política de administração de preços dos combustíveis implementada por Michel Temer e Pedro Parente, que só trouxe instabilidade e volatilidade a um segmento onde havia razoável segurança para as atividades produtivas. À época, vigorava uma política de administração de preços que, apesar de não ser refratária às alterações das crises internacionais, tinha o condão de amortecer seus efeitos permitindo ao setor produtivo e às famílias se planejarem e ajustarem seus orçamentos.

Com a política de preços do governo Temer, mantida por Bolsonaro, quando dispara o preço do barril do petróleo no mercado internacional, o que não é raro, os especuladores enchem os bolsos com a valorização de suas ações pelo aumento da margem de lucro na venda de combustíveis resultante das constantes altas do preço. Enquanto os especuladores ganham, o setor produtivo perde e os consumidores perdem mais ainda.

 

É de se supor que o presidente tem conhecimento de que o ordenamento legislativo e jurídico não lhe permite quebrar o pacto federativo e intervir diretamente nas receitas dos estados. E que nem ele próprio e nem os estados podem, por inciativa unilateral e sem compensação, abater as já combalidas receitas públicas.

O presidente quis constranger publicamente os governadores, instigando-os a subtraírem as suas próprias receitas que financiam hospitais, escolas públicas e segurança, em nome dos ganhos de especuladores, mas a verdade é que nem mesmo o Governo Federal está em condições de levar a cabo a bravata, dado o seu estado fiscal precarizado.

Há três semanas, os petroleiros deflagraram uma greve das mais fortes da história dessa empresa vital ao desenvolvimento econômico, à autossuficiência energética e à soberania nacional. Mais que um movimento paredista contra o desmonte da Petrobras e o desemprego em massa, a greve dos petroleiros é pedagógica, porque vem mostrando ao país a verdadeira causa da disparada dos preços; e patriótica na acepção mais elevada do termo, porque se coloca como uma trincheira de resistência contra a entrega do maior e mais estratégico patrimônio do povo brasileiro e em defesa da soberania nacional.

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