Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

assine e leia

Escândalos em campo

Dentro do impenetrável sistema da Fifa, dirigentes das entidades futebolísticas são trocados e defenestrados, como se nada tivesse acontecido

Escândalos em campo
Escândalos em campo
Decisão. Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, foi destituído pelo TJ do Rio – Imagem: Thais Magalhães/CBF
Apoie Siga-nos no

O ano vai chegando ao fim e, no caso do futebol brasileiro, enquanto se fala das atividades recreativas das férias, da movimentação das transferências e transações de jogadores e das premiações dos melhores do ano, recebemos a notícia do fim do mandato do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues.

A destituição aconteceu a partir de uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que anulou as assembleias que elegeram o atual dirigente.

A estratégia da CBF, agora, é levar o caso ao Superior Tribunal de Justiça, para tentar fazer valer a eleição de Rodrigues.

O dirigente vinha, há meses, sofrendo pressões internas, que se agravaram com as derrotas da Seleção Brasileira nas eliminatórias da Copa do Mundo. Há também acusações de mau uso dos recursos da CBF.

O que chama atenção, neste caso, é que um órgão de tamanha relevância seja dirigido de maneira assim descompromissada. Tudo faz parecer, no entanto, que as coisas correm regularmente dentro da entidade.

Cada vez mais, dirigentes são trocados e defenestrados depois de escândalos de todos os tipos dentro do impenetrável sistema da Federação Internacional de Futebol (Fifa), que acoberta todas as irregularidades justamente por monopolizar o poder sobre essa atividade de tamanho peso social e econômico.

Envolvidos pela torrente de um sem-número de disputas, logo são mudados os cabeças do primeiro escalão, deixando para trás os que foram execrados. E assim segue a caravana com a maior naturalidade, como se nada houvesse ocorrido.

Os últimos acontecimentos, no entanto, preocupam – e muito – porque atingem a credibilidade do “negócio” e podem trazer o desencanto aos aficionados que, em última análise, sustentam tudo.

Andei, muito tempo, intrigado com isso tudo, procurando saber quem anda por trás dos que se apresentam como grandes mandatários, mas que, sozinhos, não teriam condições de promover movimentações tão vultosas, como a possível contratação do técnico mais valorizado do futebol mundial, Carlo Ancelotti, para a Seleção Brasileira.

Felizmente, como tudo tem pelo menos dois lados, as boas notícias nos ajudam a seguir em frente e respirar. O lado bom, neste caso, são os talentos que, embora pareçam escassos nas queixas de todos nós quanto à qualidade dos jogos, trazem esperança.

Esses talentos ficam evidentes nas reportagens que, ao fazer um balanço da temporada, mostram as melhores jogadas do ano. Vimos lances espetaculares, de alta criatividade, com dribles que, diluídos nos 90 minutos dos jogos, acabam por parecer raros.

Esse olhar pode até ser fruto do meu otimismo incorrigível, mas como não atribuir ao talento os lances exuberantes do já consagrado Vinícius Jr. e do jovem ­Endrick, campeão do Brasileirão pelo Palmeiras.

E, por falar em clubes, o Fluminense chegou, como num passe de mágica, ao Mundial de Clubes da Fifa. Sabe-se que tal conquista é fruto de muito empenho de todo o elenco do tricolor das Laranjeiras e da coragem do seu treinador, Fernando Diniz. Agora é encarar os times vencedores dos quatro continentes.

No que diz respeito ao futebol europeu, a novidade é a retomada da liderança do campeonato espanhol pelo modesto ­Girona, que bateu o poderoso Barcelona. Trata-se, sem dúvida, de uma façanha e tanto em um campeonato geralmente previsível.

Para se ter uma noção de como andam as coisas pelo mundo, vêm da Turquia a notícia e as imagens chocantes do presidente de um clube importante do país invadindo o campo e atingindo o árbitro com um soco violento.

Ou seja, terminamos o ano com mais esse registro do estado de violência no qual se encontra o mundo. A cada ano que começa, no entanto, a esperança é sempre maior do que todas as derrotas e decepções. •

Publicado na edição n° 1290 de CartaCapital, em 20 de dezembro de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Escândalos em campo’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo