Drauzio Varella

drauzio@cartacapital.com.br

Médico cancerologista, foi um dos pioneiros no tratamento da AIDS no Brasil. Entre outras obras, é autor de "Estação Carandiru", livro vencedor do Prêmio Jabuti 2000 na categoria não-ficção, adaptado para o cinema em 2003.

Opinião

Entenda a relação entre exercício e câncer – e abandone a preguiça

Não é ilusão: atividade física protege até contra avanço do câncer

Entenda a relação entre exercício e câncer – e abandone a preguiça
Entenda a relação entre exercício e câncer – e abandone a preguiça
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Panaceias foram tratamentos tão populares no passado que chegaram até o século 21.

O nome deriva da deusa grega que teria o remédio capaz de curar todas as doenças e prolongar indefinidamente a vida humana. Muitos alquimistas se dedicaram a descobrir uma panaceia que, além dessas características, levasse à miraculosa pedra filosofal, dotada do poder de transformar qualquer metal em ouro.

Na Idade Média diversas panaceias foram empregadas para tratar febres das mais variadas origens, tumores, reumatismo, convulsões e muitos outros problemas de saúde.

Nos dias de hoje, no meio do lixo da internet são apregoados tratamentos inacreditáveis: pílulas do câncer, água sanitária para curar autismo e outros males, água oxigenada para tratar câncer e inúmeros chás e infusões que asseguram devolver a saúde a todas as pessoas enfermas. Quando os menos incautos perguntam por que razão os médicos não receitam remédios tão maravilhosos, os charlatães que os prescrevem apelam para a teoria da conspiração: são baratos, portanto lesivos aos interesses dos médicos mancomunados com a indústria farmacêutica, para promover a venda de medicamentos caros.

No entanto, leitor, na medicina moderna existe uma medida que remete às antigas panaceias: a atividade física. Ela protege contra ataques cardíacos, derrames cerebrais, obstruções arteriais, diabetes, doenças respiratórias, câncer em diversos órgãos, problemas articulares, transtornos psiquiátricos, perda de massa muscular, osteoporose, reduz o risco de quedas acidentais e fraturas ósseas na velhice, além de preservar por mais tempo as funções cognitivas.

Acabo de assistir a uma palestra no Congresso Americano de Oncologia sobre o papel da atividade física na redução da velocidade de progressão dos tumores malignos, na resposta ao tratamento quimioterápico e na tolerância aos efeitos indesejáveis provocados por ele.

O mecanismo envolvido é complexo, mas começa a ser elucidado. Por exemplo, está demonstrado que o exercício aumenta a oferta de oxigênio ao coração e aos músculos, altera o metabolismo da glicose e promove a formação de novos vasos sanguíneos. Essas alterações melhoram a circulação, aumentam a oferta de oxigênio e facilitam a penetração dos quimioterápicos e da radioterapia nas células situadas no interior da massa tumoral.

Ao lado dessas alterações, a atividade física interfere com a resposta imunológica. Durante ou logo após o exercício aumentam na circulação o número de linfócitos e de células NK (Natural Killers ‒ envolvidas na imunidade natural), fenômeno sugestivo de intensificação da atividade imunológica.

Como nem todos os exercícios são iguais, os estudos procuram definir o mecanismo de ação das formas aeróbias e anaeróbias, bem como as implicações terapêuticas da intensidade, duração, frequência e do timing entre a realização da atividade física e a administração do tratamento quimioterápico ou radioterápico.

Está mais do que na hora de você, prezada leitora, deixar a preguiça de lado.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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