Opinião
Em defesa da vida
O filme ‘Quando Falta o Ar’ mostra o cotidiano de cinco mulheres, trabalhadoras do SUS, nos momentos mais graves da pandemia
Cada um tem uma ou muitas histórias para contar sobre o que viveu nesses trágicos anos da pandemia. Como médico, atendendo casos de Covid-19 no setor de urgência, lembro da resposta que me foi dada por um ajudante de pedreiro a quem recomendei que se mantivesse durante dez dias em isolamento, sem trabalhar: “Posso não. Os meninos vão tudo morrer de fome”. Ou da que recebi de uma diarista a quem indiquei que ficasse isolada em seu quarto, para não transmitir a doença para os sete membros da família. Ela vivia em um barraco de um cômodo: “Aí eles vão ter que ficar na rua”.
Como filho, chorei. Não apenas por ver o sofrimento de meu pai, após 12 dias na UTI. Chorei porque olhava para ele, recebendo oxigênio, já em recuperação no leito de um quarto na Santa Casa, enquanto via na tevê famílias desesperadas em busca de torpedos de oxigênio. Vi também médicos e enfermeiros, exaustos e indignados, tendo de decidir quem iria sobreviver ou não, por falta de acesso a recursos médicos essenciais. Uma situação evitável se tivéssemos um governo minimamente capaz e comprometido.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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