Thais Reis Oliveira

thais.oliveira@cartacapital.com.br

Editora executiva digital de CartaCapital. Jornalista pela PUC-PR e o Curso Abril de Jornalismo. Como repórter, atuou em Veja São Paulo e nas edições impressa e digital de CartaCapital.

Opinião

Doria e Butantan erraram. Mas a Coronavac acerta

A mistura da ciência com a política mais confunde que esclarece. A vacina, contudo, é segura, acessível e eficaz

Doria e Butantan erraram. Mas a Coronavac acerta
Doria e Butantan erraram. Mas a Coronavac acerta
Foto: Governo de SP Doria visita o Senado com a vacina Coronavac (Foto: Governo de SP)
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50,38%. Esta é a taxa global de eficácia da Coronavac, a vacina desenvolvida pela chinesa Sinovac com a ajuda do Insituto Butantan. O resultado é bom. Além de eficaz, a vacina é segura, barata, acessível e fácil de distribuir no Brasil.

A maneira com o que o Instituto Butantan e o governo de São Paulo lidaram com o assunto, contudo, é péssima. Mais confunde que esclarece.

Em dezembro, o Butantan e o governo convocaram a imprensa para anunciar que a vacina era eficaz. Não apresentaram, contudo, nenhum dado. Na semana passada, outra coletiva bradou eficácia de 78%, mas também não ofereceu detalhes. Tratava-se, na verdade, de um recorte do estudo.

O resultado oficial só veio nesta terça 12. Doria, que na coletiva anterior chegou a chorar, dessa vez não participou.

Em um aceno a Jair Bolsonaro, o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que sua equipe fez um “esforço terrível” para testar o imunizante, “muito além do que seria em condições normais”. A Coronavac, afirmou, está “esperando para ser usada”.

Mas não há ‘poréns’ e ‘veja bens’ que superem  um resultado global tão próximo do limite estabelecido pela OMS.

Também é difícil contornar comparações, por exemplo, com o imunizantes como o da Pfizer, cuja eficácia chega a 95%. A vacina da farmacêutica americana, aliás, usa uma tecnologia muito mais complexa.

A mistura entre ciência e política, no fim das contas, produziu um anticlímax. Também instiga a xenofobia e negacionismo anti-vacina, cujo mais influente embaixador é justamente o presidente da República.

A Organização Mundial da Saúde considera improvável que haja vacinas o bastante para garantir imunidade coletiva global em 2021. Ao longo deste ano, aponta a organização, a prioridade é imunizar os grupos mais vulneráveis à doença, diminuindo mortes e aliviando os sistemas de saúde.

Com essa taxa de eficácia, a Coronavac precisará chegar a muito mais pessoas para ser de fato efetiva no combate à Covid-19. Não é capaz, sozinha, de acabar com a pandemia no Brasil. Mas cumpre o objetivo principal dessas primeiras fases da imunização: evitar os casos graves, internações e mortes. É de se comemorar.

Ontem, um deputado bolsonarista antivacinas fez a seguinte analogia no Twitter: se você soubesse que um paraquedas tem metade das chances de abrir, pularia do avião? O avião chamado Brasil, esqueceu-se ele, está em chamas. E o chão é logo ali.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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