Opinião

Desmatamento de biomas continuará a acontecer

‘Estamos sob o governo de anormais’, escreve Rui Daher

(Foto: Ibama) (Foto: Ibama)
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Durante o isolamento pela pandemia da Covid-19 que, para mim, já dura perto de nove meses, um parto normal, voltei a algumas de minhas manias e rotinas de décadas. Uma delas, ao entardecer, acender todas as luzes das áreas de minha casa. Momento que me faço iluminista e não o iluminado como Jack Nicholson, no filme (1980) de Stanley Kubrick (1928-1999).

Outra: fim da tarde, depois do home-office, entre e-mails, zaps, ligações, leituras, sonecas, sento-me no jardim da casa para reparar o comportamento dos casais de sabiás e as borboletas que aqui chegam. Alguns beija-flores também. Nem mesmo ouso colocar alguma música de meu gosto para não os atrapalhar. Podem não entender. Considerar um tipo de concorrência desleal. Mesmo que seja John Coltrane, Sinatra ou Lúcio Alves. Apenas os acompanho nas folias entre folhagens, cascas de pinus e hibiscos. Deles, não tiro os olhos. O maior segue piando atrás da menor. Um pleito de amor? Parece querer cantá-la. Quando voam até o galho mais seguro da primavera rosa, os dois cantam, ou piam, não sei.

O que sei, e com certeza, é do espírito caipira, caboclo, campesino, sertanejo, tabaréu, dos brasileiros que me fizeram adorar andar por aí, caminhar entre matos e matas, jogar papo longe, junto a cachaças, moelinhas e galopés. Do último, se não conhecem, procurem a receita. Se muito coretos, não gostarão. Eu lambo meus velhos e macunaímicos beiços.

Perceberam, né, que não estou disposto a escrever sobre as repercussões no atraso do plantio da nova safra de soja? Nada a ver. Serão poucas. Na maior parte, já foi toda antecipadamente vendida. Que a bioeconomia é a saída para a Amazônia? Escrevi na coluna anterior. Não acontecerá. A soja avança sobre áreas de cana? Percebi isso em andanças por Minas Gerais e interior de São Paulo, pré-pandemia. Claro, brasileiro é bicho imediatista. A Embrapa quer ampliar parcerias com o setor privado? Ouço o mesmo há trinta anos. Creio vocês também. Serve também ao mundo acadêmico quando se trata de inovação tecnológica. Os EUA e a Europa estouram a meta de subsídios aos agricultores e dão de ombros para a Organização Mundial do Comércio (OMC). Agtechs, Hubs, rede 4G, era digital, agricultura 4.0, clubes de assinatura para alimentos, uai, antes não se chamavam cooperativas?

Terá mesmo seguro rural para os pequenos agricultores? Onde ando, não vejo, mas sei que os rapazes da agricultura familiar, com quem falo, temem o fim do Proagro. Que as exportações de frutas crescem, já escrevi. A notícia chega a mim, vinda do Vale do São Francisco. O preço do arroz está estratosférico. Importamos do Mercosul? Não mais. E sim de Donald Trump (nada mudará com Joe Biden). O setor de distribuição e industrial segue sendo desnacionalizado. Óbvio, nós, os sustentáveis somos pequenos e médios. Seguirá o desmatamento de biomas. Sim. 4ever.

Querem mais? Tenho, mas não dou. Estamos sob o governo de anormais. Tudo poderá acontecer.

A majestade sabiá ficará e eu continuarei a acompanhando.

Inté.

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