Opinião

Demanda por fertilizantes químicos e minerais foi recorde em 2020

‘Pagar por essas nutrição e defesa está cada vez mais caro. Todos os bolsos aguentarão? Ou só quem planta soja?’, pergunta Rui Daher

Foto: Pixabay “São 160 mil conscientes dos efeitos nocivos dos agrotóxicos”, diz Leticia sobre a quantidade de pessoas que assinaram as petições. (Imagem de zefe wu por Pixabay)
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Mais uma vez o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) lança um Programa Nacional de Bioinsumos (PNB).

Já são tantos quantos foram os ministros da pasta nas três últimas décadas. Como fossem seus rebentos, a cada um, batizam com nome e siglas diferentes. O infausto é que, na maior parte, eles vêm natimortos ou como anjinhos que vão cedo para o céu.

Segundo o governo, o mais recente tem como foco “aproveitar o potencial da biodiversidade brasileira para reduzir a dependência dos produtores rurais em relação aos insumos importados e ampliar oferta de matéria-prima para setor”.

Oxalá!

Uai, mas a biodiversidade importa para Jair, Ricardo “Passa Boiada” Salles e Ernesto “Negacionista” Araújo? Deixemos para lá. Vivemos de slogans e infantilidades adultas.

Como sabemos, cerca de 90% dos fertilizantes químicos e minerais aplicados na agricultura são importados. Feito da privatização do setor no início dos anos 1990. Patrimônio do povo brasileiro, logo apropriado pelo capital estrangeiro, sem qualquer avanço tecnológico quanto aos N (Nitrogênio), P (Fósforo) e K (Potássio), macronutrientes essenciais para a nutrição das plantas.

O mesmo acontece com os agrotóxicos, chamados defensivos quando se quer amenizar efeitos pestilentos.

Não se iludam quando porta-vozes de confederações, associações, a Frente Parlamentar da Agropecuária, e releases de empresas saem a dizer que eles são a salvação das lavouras. Não mais.

Necessários para pragas e doenças pontuais em determinadas culturas, sim, mas em que doses e por que sem qualquer pré-preparo orgânico e natural da biota, conjunto de seres vivos benéficos no solo?

Vangloriam-se os convencionais. No ano 2020, a demanda por fertilizantes químicos e minerais foi recorde, 39,5 milhões de toneladas. Destes, 87% foram importados, fazendo ganharem empresas, brokers, representantes técnicos (?) de vendas, e perderem caboclos, campesinos, sertanejos e tabaréus, principalmente, se pertencentes à agricultura familiar, sem apoio robusto desde 2016.

Tais números e feitos altissonantes, fatalmente, vêm da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), uma sinecura de que participei nos anos 1980/1990, quando empregado da indústria de fertilizantes. Prefiro esquecer tal vassalagem.

Libertei-me, há vinte anos, por perceber a falácia do “as plantas só precisam de comida (NPK e micros) e defesas contra o clima subtropical”. Palavras de saudosos, mas ultrapassados amigos agrônomos.

Pagar por essas nutrição e defesa está cada vez mais caro. Todos os bolsos aguentarão? Ou, na conjuntura atual, só quem planta soja? Até quando?

Apesar do pouco entendimento dos produtores rurais, seus acomodados consultores, e da massiva doutrinação técnica da indústria química, hoje em dia, biorreguladores, bioestimulantes, bioativadores, fosfitos, aminoácidos, extratos vegetais, como os provenientes de algas marinhas, ácidos húmicos e fúlvicos são fundamentais em determinadas fases do crescimento, para as produtividade e sanidade das plantas.

Depois de quase 30 anos de espera, sinto dizer que o PNB será mais uma esperança-slogan e nada mais.

Em 2020, o número de novos registros de “defensivos” agrícolas bateu recorde. O crescimento vem desde Temer e atinge o auge com Bolsonaro. Nos governos Lula e Dilma ele foi decrescente, assim como o foram o desmatamento na Amazônia e em outros biomas brasileiros.

Com o atual governo, serão biomas ou miomas?

Foram 493 as aprovações. Todos chegaram às prateleiras das revendas, onde atuam as forças de robôs agronômicos. Péssimo, mas quem, pelo bem das saúdes humana e ambiental, resistiria diminuir o faturamento dos 12 bilhões de dólares atuais, no Brasil?

Há esperanças de aceleração na aprovação de defensivos biológicos, tecnologia revolucionária na agricultura. Oxalá, repito. Somente que, desde 2015, a participação deles sobre o total dos registros nunca saiu do patamar de 20%, como no ano passado. Para empresas pequenas e médias, altos custo e burocracia para atender as exigências do MAPA.

Volto ao assunto. Inté.

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