Josué Medeiros

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Cientista político e professor da UFRJ e do PPGCS da UFRRJ. Coordena o Observatório Político e Eleitoral (OPEL) e o Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira (NUDEB)

Opinião

Datena será o Russomanno da vez em São Paulo?

Independentemente do futuro do apresentador, a pesquisa Quaest mostra um cenário positivo para a candidatura de Guilherme Boulos e crítico para o atual prefeito, Ricardo Nunes

Datena será o Russomanno da vez em São Paulo?
Datena será o Russomanno da vez em São Paulo?
O candidato do PSDB à prefeitura de SP, José Luiz Datena. Foto: Divulgação/PSDB
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As eleições municipais de 2024 vem se aproximando, com o momento das definições das candidaturas em todas as cidades. A partir de agora, as pesquisas de intenção de votos começam a medir cenários que de fato estarão nas urnas.

No caso da eleição em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, a recente pesquisa da Quaest, feita entre 25 a 28 de julho, mostrou estabilidade dos dois principais candidatos até aqui, Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), que apresentaram variações dentro da margem de erro na comparação com o levantamento anterior, ambos caindo 2 pontos. 

A pesquisa também registrou o crescimento expressivo de José Luiz Datena (PSDB), que chegou ao patamar de 19%.A ver se as demais pesquisas vão confirmar esse crescimento. Esse número é bastante discrepante na comparação com o que o apresentador vem pontuando nas demais pesquisas anteriores. No Datafolha do começo de julho, Datena tinha 11%. Na pesquisa Atlas de junho, tinha 6%. A ver se as demais pesquisas vão confirmar esse crescimento. 

De qualquer forma, a presença forte de Datena não significa que a polarização nacional não tenha influenciado a dinâmica local. Em São Paulo, tradicionalmente,  a polarização entre esquerda e direita é complementada por um terceiro elemento, que podemos chamar de populismo conservador. Este elemento remonta a figuras históricas da cidade, como Jânio Quadros e Paulo Maluf.

As eleições de 2012, vencidas por Fernando Haddad, também foram marcadas por essa configuração: o Datafolha da véspera de primeiro turno pontou empate técnico entre José Serra (PSDB), com 28%, Haddad (PT), com 24% e Celso Russomano, na época do PRB, com 27%. Quando as urnas foram abertas, o segundo turno foi confirmado entre Serra, com 30,75% e Haddad, com 29%, e Russomano desidratou para 21%. 

Russomano tinha um perfil semelhante ao de Datena: uma figura midiática com grande visibilidade na cidade e que representava um sentimento popular conservador. Apesar de sempre aparecer bem nas pesquisas, nunca conseguiu chegar ao segundo turno ou quebrar a polarização. É possível que Datena enfrente o mesmo destino.

Independentemente do que acontecerá com Datena no futuro, a pesquisa Quaest mostra um cenário positivo para a candidatura de Guilherme Boulos e crítico para o atual prefeito, Ricardo Nunes. No campo da esquerda, Boulos continua na liderança, enquanto Tabata Amaral permanece estacionada com 5% (no Atlas de junho, ela marcou 10% e fez 7% no Datafolha de julho). Já no campo da direita, Nunes enfrenta dificuldades, sendo pressionado por Marçal, que está sempre acima dos 10%, e pelo crescimento de Datena.

Nunes enfrenta sérios problemas de avaliação de sua gestão, com apenas 33% dos eleitores considerando seu governo ótimo ou bom, apesar de todos os investimentos feitos até o limite permitido pela legislação. Metade do eleitorado acredita que ele não merece ser reeleito, refletindo o forte desejo de mudança nestas eleições. Além disso, 84% avaliam que ele não está resolvendo o principal problema da cidade, que é a segurança; 72% dizem que ele não está resolvendo o segundo principal problema, que é a saúde; e 91% consideram que ele não está atuando positivamente no combate à pobreza e à desigualdade. Esses dados mostram que o eleitorado está insatisfeito com a atual gestão e busca soluções alternativas para os problemas da cidade.

Também pesam contra Nunes as constantes denúncias de corrupção, que tendem a ganhar mais visibilidade durante o processo eleitoral. A última, que envolve propina em suposto um esquema de corrupção em creches, não foi medida por essa pesquisa. 

Os dados sobre a nacionalização das eleições seguem muito bons para a esquerda. Segundo a Quaest, 29% dos eleitores votariam em um candidato apoiado por Lula, e Boulos possui 19% das intenções de voto. Se Boulos conseguir fidelizar os 10% restantes, garante um lugar no segundo turno. Por outro lado, 20% dos eleitores votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro, exatamente o índice de intenção de voto de Nunes. Ou seja, o apoio de Bolsonaro não está trazendo benefícios para Nunes, pois a rejeição de votos em um candidato indicado por Bolsonaro é de 75%, contra 68% de rejeição para um indicado por Tarcísio e 66% para um indicado por Lula. Em resumo, o apoio de Lula está se consolidando como o mais forte nestas eleições. Além disso, 51% dos eleitores preferem um prefeito independente. Este é um ponto a ser acompanhado de perto, considerando a disputa sobre a nacionalização ou não das eleições.

Por fim, a rejeição de Boulos está no mesmo nível que a de Nunes (40% contra 36% do atual prefeito) e é menor que a de Datena (48%). Isso é especialmente relevante, considerando que a campanha ainda não começou oficialmente. Esse cenário é importante para os candidatos de oposição, que não têm a máquina pública para se promover.

É pouco provável que as pesquisas realizadas antes do início efetivo da campanha apresentem alguma mudança substancial nesse cenário, a menos que ocorra um acontecimento bombástico. A eleição em São Paulo está encerrando o período de pré-campanha com a esperança de que a vitória de Lula e Haddad na cidade em 2022 se repita com Boulos em 2024.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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