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Da frigideira à pizza: inquérito de “hackers” é desafio para Moro

Ex-Juiz da Lava Jato e atual ministro da Justiça está na frigideira em fogo baixo após audácia e abusos em prisão de hacker

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No final da semana passada, o site The Intercept Brasil, que vem publicando conversas comprometedoras entre Moro e procuradores da Lava Jato, já havia cantado a bola: nesta semana a PF prenderia suspeitos de hackeamento e a eles seria atribuída a origem das conversas vazadas pelo Intercept.

Dito e feito: no intervalo de poucas horas, hackers foram presos, um deles disse que venderia as mensagens ao PT, depois teria assumido ser a fonte do Intercept, Moro coloca toda a Praça dos Três Poderes em alerta por terem sido alvos do hacker, mas os tranquiliza garantindo que as conversas acessadas serão todas destruídas.

Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato e ministro da Justiça e segurança Publica em declaração durante audiência na CCJ da Câmara. Site The Intercept divulgou supostas mensagens que teriam sido trocadas entre o ex-juiz e procuradores. Foto: Lula Marques

São inúmeros os problemas e as razões de desconfiança em relação ao inquérito que prendeu os supostos hackers:

o amadorismo e a simplicidade dos supostos criminosos, dada a magnitude da empreitada; o fato de que o hacker que tem confessado tudo que dele se espera é o aquele sobre o qual menos se sabe, e do qual o advogado até agora pouco falou à imprensa;

o açodamento de Moro ao ligar esses hackers ao vazamento de suas próprias conversas pelo Intercept; sua tentativa de forçar uma solidariedade institucional costurando a Praça dos Três Poderes com o pânico de terem todos eles, do Executivo, Legislativo e Judiciário, sido alvos do hackeamento;

o questionável papel do ex-juiz, agora ministro, no trato público de um inquérito que é sigiloso e sobre o qual, mesmo sendo ele o superior hierárquico da Polícia Federal, não deveria ter tanta interferência assim – seja porque é parte interessada no assunto, seja porque a independência da PF tem sido um dos pilares da cruzada anticorrupção que o próprio Moro ergueu e liderou.

Não sou muito afeito a teorias da conspiração, mas no Brasil do grande acordo nacional – com Supremo, com tudo – não é de se duvidar de mais nada.

Tudo nesse inquérito sobre os hackers de Araraquara caminha para uma enorme armação por meio da qual, mais uma vez arbitrária e autoritariamente, Moro manipula as instituições para atingir fins políticos e pessoais. Porém, a audácia do ex-juiz não passou despercebida, e incomodou até mesmo quem ele pretendia beneficiar na sua solidariedade criminosa com as supostas vítimas dos hackers, e até mesmo quem vinha o apoiando em seus ímpetos autoritários.

De ministros do STF à OAB, passando por lideranças parlamentares, cresce a impressão de que Moro talvez esteja passando dos limites – se é que é possível falar em limites políticos, éticos e institucionais depois da farsa jurídica e política que foi da Lava Jato ao golpe de 2016.

A questão agora é saber se o super-herói Moro – o homem que investiga, acusa e julga, que é vítima e condutor de inquérito, que cruza a bola e cabeceia pro gol – vai conseguir sair da frigideira para transformar mais um escândalo em pizza.

Este texto não reflete necessariamente a opinião de CartaCapital.

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