Paulo Artaxo

Cientistas e pesquisador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável da USP.

Opinião

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Da Assembleia da ONU à COP30

O Brasil tem tudo para liderar a transição energética e alavancar o desenvolvimento com energia limpa

Da Assembleia da ONU à COP30
Da Assembleia da ONU à COP30
O presidente Lula e o governador do Pará, Helder Barbalho, durante Cerimônia de divulgação dos investimentos do Governo Federal para a COP30 e seu legado. Mercado São Brás, Belém-PA. Foto: Ricardo Stuckert / PR
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No discurso na reunião da Assembleia-Geral das Nações Unidas, o presidente Lula marcou posição por uma forte defesa da soberania do Brasil, da democracia e do multilateralismo como único caminho para o desenvolvimento econômico e social global. O clima também esteve presente, quando o presidente cobrou a apresentação das novas metas climáticas dos países sob o Acordo de Paris e disse que a COP30 em Belém será a “COP da Verdade”. Lula lembrou que o Brasil já apresentou sua NDC, com o objetivo de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035 em relação a 2005.

Além das NDCs, o presidente cobrou mais financiamento climático dos países ricos. “Nações em desenvolvimento enfrentam a mudança do clima ao mesmo tempo que lutam contra outros desafios. Enquanto isso, países ricos usufruem de padrão de vida obtido à custa de 200 anos de emissões. Exigir maior ambição e maior acesso a recursos e tecnologias não é uma questão de caridade, mas de Justiça”, afirmou. Também usou um argumento frequente em suas exposições: as grandes potências gastam muito mais em armamentos e guerra do que em apoio à ação climática nos países mais pobres. “Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática.” E provou que a COP30 será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta.

Por outro lado, o presidente dos Estados Unidos fez um discurso negacionista, a favor da indústria dos combustíveis fósseis e contra o multilateralismo, colocando os interesses norte-americanos acima de todos os demais. Colaboração internacional não faz parte da nova administração dos EUA. Ao invés disso, o confronto econômico ou ameaças bélicas é o que mais importa. A geopolítica do planeta está mudando rapidamente.

Na Climate Week de Nova York, o Brasil lançou formalmente o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). O Brasil destinará 1 bilhão de dólares para o TFFF, e a expectativa do governo federal é que o fundo chegue ao aporte inicial de 25 bilhões até a COP30, com a possibilidade da injeção de mais 100 bilhões pelo setor privado ao longo dos próximos anos. A iniciativa, criada pelo governo brasileiro, visa fortalecer a manutenção das florestas em pé a partir de pagamentos a paí­ses que garantirem a conservação de suas matas nativas. O aporte, divulgado durante diálogo sobre o TFFF, é uma sinalização do “padrão” de valor que os demais países participantes devem seguir.

Além do TFFF para remunerar países pela preservação florestal, foram discutidos os detalhes da proposta de coalizão de mercados de crédito de carbono. Ambos os mecanismos funcionarão de forma complementar, para remunerar iniciativas de conservação e de captura de gases de efeito estufa, essenciais para manter viáveis as metas do Acordo de Paris. Isso, claro, só é possível com o fim da exploração e uso de combustíveis fósseis. “As florestas tropicais são fundamentais para manter vivo o propósito de limitar o aquecimento global a 1,5°C. O TFFF não é caridade, é um investimento na humanidade e no planeta contra a ameaça de ­devastação pelo caos climático”, declarou.

Na New York Climate Week, Lula e mais 16 chefes de Estado assinaram uma carta conjunta em prol da transição energética justa. O texto ressalta a importância de se acelerar a produção e o consumo de energias renováveis, como decidido de comum acordo na COP28. Os líderes anunciaram a criação do Fórum Global de Transições Energéticas – espaço de cooperação entre governos, bancos, empresas e instituições internacionais – para ampliar investimentos, reduzir riscos e apoiar países em desenvolvimento. A meta é instalar 11 terawatts de capacidade de geração renovável até 2030, triplicando a geração de energia limpa. Este documento termina com um chamamento forte: “Esta é a década decisiva. As escolhas que fizermos hoje determinarão se aproveitaremos essa oportunidade inédita de transformação econômica ou se permitiremos que a inércia continue por anos”.

A principal tarefa da COP30 é clara. Temos que acabar com a exploração e uso de combustíveis fósseis e olhar para a energia do futuro, com baixas emissões de gases de efeito estufa. O Brasil, com seu gigantesco potencial de geração eólica e solar, tem uma oportunidade­ de ouro em se transformar em uma potência energética de baixo custo e limpa. Podemos liderar esta transição deixando a energia do século passado para trás, e alavancando nosso desenvolvimento com energia limpa. •

Publicado na edição n° 1382 de CartaCapital, em 08 de outubro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Da Assembleia da ONU à COP30’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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