

Opinião
Coronavírus nas redes: Bolsonaro arrisca seu maior ativo político
Dados da DAPP-FGV apontam acelerada perda de credibilidade de Bolsonaro nas mídias digitais, resultado de sua conduta tresloucada no governo


Pelo que se pode observar dos debates públicos sobre o coronavírus nas redes sociais, pela primeira vez desde que assumiu o cargo, Bolsonaro corre o risco de perder totalmente o controle da agenda política e dos debates em mídias digitais, confinando-se em torno de um grupo limitado de apoiadores fanatizados. Mas, sobretudo, com sua atitude negacionista (que subestima e debocha da ameaça representada pela doença), Bolsonaro pode colocar em risco a liderança sobre o campo conservador, caminhando para o total isolamento.
De acordo com dados disponibilizados pela Diretoria de Análises de Políticas Públicas da FGV (DAPP-FGV), o que se percebe nas mídias digitais é uma acelerada perda de credibilidade do bolsonarismo, em virtude da postura absolutamente incompatível com o exercício da Presidência da República por parte de Bolsonaro.
Sua conduta tem resultado no abandono de parte expressiva de seus antigos aliados e apoiadores. E mesmo nos nichos mais orgânicos do bolsonarismo, as críticas ao seu comportamento crescem exponencialmente. Janaína Paschoal não foi a única liderança expressiva a se manifestar.
Em diferentes plataformas, grupos de WhatsApp, redes sociais, há uma enorme perplexidade junto à base original de apoio ao atual governo. Desta forma, Bolsonaro põe em risco seu maior ativo político: a liderança sobre o campo conservador brasileiro.
Bolsonaro mantém suas redes ativas e mobilizadas. Elas mantêm força e penetração em todo o país. Porém, o que se percebe é que estão falando para um núcleo ensandecido e fanático, cada vez mais reduzido, e se distanciando do resto, em especial, da centro-direita.
O negacionismo está, portanto, encurralando Bolsonaro e pode até lhe custar o mandato. Ainda é cedo para afirmar o desfecho desta crise. Provavelmente, o governo aposte que a pandemia resulte em danos menores no Brasil do que em países como a Itália. Assim, Bolsonaro poderia dizer ao final que estava com a razão. Um cenário pouco provável pelo que se depreende da opinião de especialistas hoje.
Outra possibilidade é a aposta no caos e na radicalização para tentar uma solução autoritária, o que dependeria de muitos fatores que não estão sob seu controle atualmente. Enfim, há muitas possibilidades. Mas, o fato é que a conduta tresloucada de Bolsonaro pode lhe custar muito caro. E a corrosão de sua base de apoio pode abrir inúmeras possibilidades na conjuntura política do país dos próximos meses, incluindo aí a emergência de uma nova liderança no campo conservador.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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