Opinião

Continuamos e continuaremos sendo o Brasil Commodities

Não percam a esperança em quem votaram. Eis que senão quando, o governo tem a solução

Foto: Jonas Oliveira/ANPr
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Que teríamos política econômica de extração neoliberal com acentuado viés contra os direitos dos trabalhadores, extermínio de programas de inserção social, desvario na preservação ambiental e perda de respeito e soberania diante do tecido que permeia as relações internacionais, isto sabíamos. Talvez, até, com menor dramaticidade do que ocorre nestes meses do governo de Jair Bolsonaro e família.

Por que, então, nunca na história deste País tanto se chove no molhado? Porque um terço da população adulta brasileira é como eles e os outros dois terços são robôs perdidos no espaço.

Quem é de oposição tem reações de orgasmo com a expectativa das revelações da Vaza Jato. The Intercept Brasil não faz mais do que confirmar o que aqueles que votaram em Fernando Haddad sabiam. Um conluio de gângsters levou o Brasil ao impeachment de Dilma Rousseff e à prisão de Lula. No mais, quem bem-humorado prefere deliciar-se com os descalabros diários que saem da boca presidencial ou de um dos seus acólitos.

A manada, intencionada ou não, que o elegeu, faz muxoxo para a barbárie – “ele é assim mesmo, precisamos dar-lhe tempo”. Como se 28 anos dele inoperante na política e inexpressivo ou rebelde nas Forças Armadas a nada servissem.

Restam, pois são restos mesmo, os segmentos mais toscos e virulentos da população, que fazem questão de mostrar-se à sua imagem e semelhança.

Como disse, chovemos no molhado. E damos as costas para economia em frangalhos, direitos humanos e sociais atropelados, conceitos culturais rasteiros, judicialização partidarista.

Mas, ó que dó deste cético colunista que não enxerga aquilo que a ele é pedido observar neste site de CartaCapital, os agronegócios.

Escusas. Realmente:

  1. Segundo a Conab, mais uma vez, o Brasil terá colheita recorde de grãos, 90% deles concentrados em soja e milho, e os demais 10% repartidos entre algodão, arroz, feijão, trigo e variados raros;
  2. O quebra-pau de Donald Trump e Xi Jinping, segundo o USDA, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, reforça a produção do milho brasileiro e aponta o País como responsável por mais de 50% da exportação de soja;
  3. Torçamos para que eles não façam as pazes e tudo não termine num grande acordo bilateral, abraço de urso eleitoreiro do presidente pele-laranja no manipulador de yuan;
  4. Nós, os brasileiros, continuamos e continuaremos, por muitos anos, com a economia sustentada pelo agronegócio de commodities;
  5. As limitações impostas aos setores industrial e de inovação tecnológica, pesquisa e conhecimento, formas ultrapassadas de fazer comércio e prestar serviços, predomínio dos setores financeiros ou rentistas, educação não abrangente, mais e mais, aprofundarão as perdas nacionais, a impedir desenvolvimento.

Claro que, sei lá, talvez, não ponho a mão no fogo, “apesar de vocês”, o Brasil continuará sendo o país com maior potencial de expansão da área agrícola para produção de grãos (segundo o USDA, 21% até 2027, e continuidade após 2030). Tal limitação, noutras regiões, garantirá preços remuneradores.

Para isso, no entanto, teríamos que transformar 140 milhões de hectares de áreas degradadas ou erodidas em territórios produtivos. A pergunta: mas com governo irracional que pensa preservação ambiental como alimentação de veganos? Ou, pior, de forma escatológica, que me furto de colocar em texto que se pretende inteligente e fino.

Mas não percam a esperança em quem votaram. Eis que senão quando, o governo tem a solução: “uma campanha de marketing para melhorar a imagem do Brasil no exterior com grande destaque para o setor de agronegócios (…) na mira de um movimento internacional de ataque (…) por causa de questões indígenas e ligadas ao ambiente”. (Valor, 8/8)

Ah, é? Então, inté.

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