Opinião

Como se comportarão países falidos, mas armados até os dentes, alguns com armas nucleares?

EUA e Japão assinaram acordo militar, prevendo o rearmamamento japonês, algo que não ocorria desde a Segunda Guerra Mundial

A ameaça eterna
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No dia 20 de abril, comemora-se, no Brasil, o Dia do Diplomata.

A data é alusiva ao nascimento do Barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior, patrono da diplomacia brasileira.

Paranhos nasceu em 20-4-1845 e faleceu em 10-2-1912.

Segundo seus biógrafos, o Barão, no delírio da doença que lhe custaria a vida, repetia incessantemente: “Bahia, Forte de São Marcelo!”

Isso porque o então presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, mandara que os canhões daquele forte, que deveriam proteger a cidade de Salvador, fossem virados em direção a ela. Em 10-1-12, a cidade foi bombardeada pela própria fortaleza, durante quatro horas.

O ataque, à traição, fora mais do que o Barão poderia suportar.

Vale lembrar que, ao delimitar nossas fronteiras com todos os 10 países vizinhos, vencendo todas as causas que defendeu e, assim, determinando que 1/9 do nosso território – que era reivindicado pelos vizinhos – permanecesse sendo brasileiro, o Barão prestou incomensurável serviço à pátria, mas também aos militares pátrios, que não precisaram disparar nem um tiro sequer de escopeta, naquela que costuma ser a principal causa de guerras entre as nações, como ainda vemos atualmente entre países lindeiros ao nosso.

O acúmulo de armas e recursos em mão de forças armadas que já tiveram cumprida sua principal função, a defesa externa do território, não traria ao Brasil nada de significativo no campo da promoção cidadã. Ao contrário, elevaria o grupo detentor das armas a uma situação de quarto poder, sem que os três outros, constitucionais, pudessem lhe cercear o arbítrio, como vimos ainda recentemente em 2016 (falso impedimento da presidenta Dilma) e 2018 (tweet do general Vilas Boas ameaçando o Superior Tribunal Federal), golpes que levaram à ascensão da extrema-direita no Brasil.

O risco que o mundo corre, atualmente, é muito similar ao que o Brasil enfrentou no último século.

Temos um grupo de países extremamente armados, basicamente os do G7, que alocam algo em torno de 2% dos respectivos PIBs à defesa, sendo todas elas economias falidas, pois devem mais de 100% do próprio PIB, a saber: Estados Unidos da América, Reino Unido, França, Itália, Japão etc.

Vale notar que, ainda na semana passada, EUA e Japão assinaram acordo militar, prevendo o rearmamamento japonês, algo que não ocorria desde a Segunda Guerra Mundial.

A pergunta que resulta é simples: como se comportará esse grupo de países, falidos economicamente, mas armados até os dentes, três do quais com armas nucleares?

Em termos individuais, não coletivos, um grupo de pessoas quebradas economicamente, mas com armas, seria algo como uma milícia, incapaz de ganhar a vida honestamente, mas disposta a viver como “assaltante”, cobrando propina de “proteção”, uma vez que dificilmente se pode imaginar que não fariam uso das armas para obter o que não conseguem por meio do trabalho honesto.

Em vertente mais otimista, por outro lado, os falidos poderiam estar mais propensos à negociação (sempre com o bastão atrás da porta, evidentemente), como parece ser o caso dos democratas estadunidenses.

O recente encontro entre delegações dos EUA e da Venezuela, na Cidade do México, parece ir nesse sentido.

A sincronicidade da referida reunião com o aumento das tensões no Oriente Médio não deixa dúvida quanto à oportunidade: um fechamento do Estreito de Ormuz por parte do Irã traria prejuízos econômicos de grande magnitude aos EUA, uma vez que por ali transita boa parte do petróleo que importam.

De fato, a máxima que diz “façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço” parece aplicar-se perfeitamente ao caso: embora tenham levado os europeus à bancarrota energética, fazendo com que cessassem as compras de petróleo e gás da Rússia, inclusive sabotando os oleodutos que os interligavam, os EUA nem por um minuto estão dispostos a abrir mão do fornecimento seguro de petróleo, estratégia da qual a reunião em apreço entre as duas delegações parece fazer parte.

Para a diplomacia brasileira, entretanto, restou o gosto amargo de quem estava disposto a agradar o mais forte, ao custo da própria coerência.

Após críticas ao sistema eleitoral venezuelano, infundadas, descabidas e sem lastro na realidade, o Itamaraty foi trocado, com razão e elegância, pelo Tlatelolco, a chancelaria mexicana, que facilitou o diálogo entre as partes, um “presente” que rebaixou o país e que o heroico Barão do Rio Branco não merecia receber em seu aniversário.

De outra sorte, um dado de certa maneira compensador é a visão tática do secretário de Estado estadunidense, Antony Blinken, sem dúvida o melhor negociador com que os EUA contaram nas últimas décadas.

Ponderado, mas firme, Blinken tem sido capaz de minimamente balizar o governo de extrema-direita de Israel, que limites jamais conhecera.

O aviso do presidente Biden a Bibi Netanyahu de que os EUA não os apoiarão em eventual conflito com o Irã também é inédito e, se parte do pragmatismo energético antes mencionado, representa contraponto importante a Netanyahu, que visa a estender a guerra, para protelar os julgamentos sobre prática de corrupção que pesam contra ele.

Vale notar que os aliados locais de Bibi, Caiado e Tarcísio, continuam a mostrar suas credenciais fascistas, como a buscar serem bem aceitos no clube dos genocidas: a polícia do primeiro invadiu uma casa em Goiás, por engano, apontando arma para uma mãe lactante, com o bebê no colo; em São Paulo, o segundo anunciou a privatização da gestão de 33 escolas, destruindo o futuro de milhares de crianças carentes, tendo o número que coincide com a idade de Cristo como escárnio adicional a crentes e não-crentes, em pleno Tempo Pascal.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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