Riad Younes
[email protected]Médico, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professor da Faculdade de Medicina da USP.
Pelé, Roberto Dinamite e Preta Gil receberam o diagnóstico de câncer colorretal. Não há uma epidemia em curso, mas a incidência da doença aumentou em pessoas com menos de 50 anos
Não deu tempo de nos restabelecermos após o falecimento do eterno Rei Pelé e nos deparamos com a morte do ídolo Roberto Dinamite, seguido do diagnóstico de cantora Preta Gil. A causa é comum a todos: o câncer do intestino grosso. Obviamente, isso eleva a notoriedade desse tumor, que é o segundo em incidência em ambos os sexos, atrás do câncer de próstata no homem e de mama na mulher.
Em evidência, dado o número de famosos acometidos por essa doença nos últimos tempos, questiona-se: estaria o câncer colorretal se tornando mais comum entre a nossa população? Estamos diante de uma epidemia? Para discutirmos o tema, conversamos com Marcelo Averbach, cirurgião coloproctologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
CartaCapital: Está, de fato, crescendo a incidência do câncer colorretal?
Marcelo Averbach: Na realidade, a incidência e a mortalidade por câncer colorretal estão em declínio nos últimos 20 anos em todo o mundo, o que pode ser atribuído à prevenção. Há, porém, um fenômeno recente que vem chamando atenção: esse tumor tem aumentado de prevalência na população abaixo dos 50 anos, na qual a chance de ter o tumor era muito baixa.
CC: Existe alguma explicação?
MA: A incidência desse câncer aumentou em indivíduos mais jovens, muito provavelmente em decorrência de hábitos pouco saudáveis que vão além da alimentação, como sedentarismo, tabagismo e alcoolismo.
CC: Como prevenir a doença e como reconhecê-la na fase inicial?
MA: Em primeiro lugar, a adoção de alguns hábitos saudáveis pode reduzir o risco de aparecimento do tumor de intestino. Para tanto, deve-se não fumar e não beber álcool, combater a obesidade, evitar o sedentarismo, reduzir o consumo de carnes vermelhas e seguir uma dieta rica em fibras. Esse conjunto de práticas é o que chamamos de prevenção primária.
CC: Com o diagnóstico da doença em estágio precoce é possível curá-la?
MA: Sim. O diagnóstico precoce é, por sinal, a prevenção secundária. Quando encontramos os pólipos, formas precursoras do tumor, podemos retirá-los, evitando sua progressão ao câncer. Mesmo com o câncer estabelecido, quanto antes ele for descoberto, maior é a chance de cura.
CC: Com a maior prevalência do câncer colorretal em pessoas jovens, mudam as recomendações e as diretrizes médicas?
MA: Sem dúvida. Isso levou os médicos a recomendar exames para o rastreamento dessa doença a partir da idade de 45 anos, e não mais aos 50, como era feito anteriormente.
CC: Como se faz o rastreamento?
MA: Há várias estratégias para o rastreamento. A primeira é via exame de fezes, no qual se pesquisa a presença de sangue. Em caso positivo, prossegue-se com a colonoscopia. Em caso negativo, o exame deverá ser repetido em, no máximo, três anos. A colonoscopia é a forma mais eficaz de diagnóstico. Esse exame nos permite encontrar e retirar os pólipos. Dessa forma, evitamos o aparecimento do tumor em mais de 50% dos casos, além de reduzir a mortalidade pela doença em até 70%.
CC: Fora dos exames de rastreamento, as pessoas podem notar sinais de alerta para a possibilidade de um câncer colorretal?
MA: Sim, é necessário que todos estejam atentos aos principais sintomas do câncer colorretal: sangue nas fezes, alteração do hábito intestinal, com alternância entre a diarreia e o intestino preso, dor abdominal, perda de peso e anemia. Na presença desses sintomas, é fundamental procurar o médico para a realização de colonoscopia. Nesse momento em que os holofotes estão voltados para essa doença, é de suma importância expandir o conhecimento sobre como prevenir e reconhecer precocemente a doença e, assim, evitar mortes tão trágicas quanto desnecessárias. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1244 DE CARTACAPITAL, EM 1° DE FEVEREIRO DE 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Como está seu intestino?”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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